quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Meet the pala



Estavam ela por ela, eles e elas.
Com os seus símbolos de grupo, estampados ou encavalitados na cabeça, alguns brilhantes como se aço as correntes fossem, eles eram o costume de qualquer outro lado.
Por seu lado, elas, exibiam-se como de costume, cada uma tentando ser mais exuberante no diminuto dos trajes ou no respectivo colorido. Como em qualquer outro lado.
E estavam, como em qualquer outro lado, nos seus jogos de provocação recíprocos, quase pueris, eles com eles, elas com elas e eles com elas, como se o mundo, nesta tarde, se reduzisse a eles e elas.
Tudo por junto, eles e elas, os que estavam em grupo e os que cirandavam em busca de um grupo, mais não seriam que uns duzentos e cinquenta. Bem medidos. De tão poucos que eram, eles e elas, que quase se não viam sob a imensidão da pala. E quando procuravam as sombras mais frescas das colunas, nem se viam mesmo.
Quem se via mesmo eram os outros eles. Tudo por junto estes eles não seriam mais de trinta, apeados. Mais uns quatro ou seis nos carros que, como os outros, cirandavam em busca de grupo.
Mas estes eles, sempre aos pares ou em dupla de par, faziam por serem vistos. E eram-no. Que os bonés na cabeça não destoavam do azul dos uniformes nem da parafernária profissional que traziam à cinta, no cinto.
Muito mais discretos, a ponto de só se verem quem os soubesse ver, eram os à civil que cirandavam no interior do centro comercial, como se evitassem qualquer grupo.
Mas para quem já anda nestas coisa há algum tempo como eu, é fácil interpretar alguns sinais. Para já não falar de algumas caras reconhecidas de outras circunstâncias.
Resta falar do terceiro grupo de eles. Os seguranças. Para além dos habituais, de casaquinho vermelho, o contingente fora reforçado com mais uns quantos, de fato-macaco, tamanho king-size, que estavam tão visíveis e estrategicamente colocados quanto os anúncios de telemóveis ou outras inutilidades no interior do centro.
Não sei se haveria mais dos eles em carrinhas estrategicamente colocadas a distância discreta. Mas, e considerando o visível, seriam em quantidade.

No meio de todo este quase-drama, com eles e elas alegres e descontraídos por um lado e os outros eles, carrancudos e ameaçadores por outro, houve gente frustrada ou incomodada. A saber:
Um jornalista com o fotógrafo. Enquanto esperavam o táxi, e eu fumava um cigarrito observando, comentou o segundo para o primeiro: “eu disse-te que não dava nada!”;
Um casal de noivos, com o respectivo traje e fotógrafo, que não conseguiam fazer as fotos da praxe sob a pala como queriam. Polícia de um lado, miudagem do outro não dá, ouvi o fotógrafo comentar, enquanto se afastavam, ela segurando o seu vestido acima das agruras das pedras da calçada;
Duas funcionárias do centro, que ouvi em momentos diferentes, que comentavam nos corredores e ao telemóvel “isto ‘tá cheio de bófias e segurança!”

Quanto ao resto eu, que fui ali parar sem suspeitar que nesta quinta-feira estava previsto o que quer que fosse, diverti-me à brava com o que vi, ao mesmo tempo que fiquei cheio de raiva do aparato policial, nitidamente repressivo pela dissuasão, preparados para o desse e viesse daquele bando deles e delas que ali não estava que não apenas para aproveitar o fim de Agosto e, de caminho, fazer um nico de provocação às autoridades. Sem mais.
Que faz parte da adolescência o ficar até à última e o provocar.
Alguém terá que explicar bem explicado a este governo e a este comando de polícia o que é pedagogia, o que é a adolescência, o que é delinquência e o que é opressão policial.



By me

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