É
na câmara escura dos teus olhos
que
se revela a água
água
imagem
água
nítida e fixa
água
paisagem
boa
nariz cabelos e cintura
terra
sem nome
rosto
sem figura
água
móvel nos rios
parada
nos retratos
água
escorrida e pura
água
viagem trânsito hiato.
Chego
de longe. Venho em férias. Estou cansado.
Já
suei o suor de oito séculos de mar
o
tempo de onze meses de ordenado;
por
isso, meu amor, viajo a nado
não
por ser português mal empregado
mas
por sofrer dos pés
e
estar desidratado.
Chego.
Mudo de fato. Calço a idade
que
melhor quadra à minha solidão
e
saio a procurar-te na cidade
contrastada
violenta negativa
tu
única sombra murmurada
única
rua mal iluminada
única
imagem desfocada e viva.
Moras
aonde eu sei.
É
na distância
onde
chego de táxi.
Sou
turista
com
trinta e seis hipóteses no rolo;
venho
ao teu miradoiro ver a vista
trago
a minha tristeza a tiracolo.
Enquadro-te
regulo-te disparo-te
revelo-te
retoco-te repito-te
compro
um frasco de tédio e um aparo
nas
tuas costas ponho uma estampilha
e
escrevo aos meus amigos que estão longe
charmant pays
the
sun is shining
love.
Emendo-te
rasuro-te preencho-te
assino-te
destino-te comando-te
és
o lugar concreto onde procuro
a
noite de passagem o abrigo seguro
a
hora de acordar que se diz ao porteiro
o
tempo que não segue o tempo em que não duro
senão
um dia inteiro.
Invento-te
desbravo-te desvendo-te
surges
letra por letra, película sonora,
do
sendo à vogal do tema à consoante
sem
presença no espaço sem diferença na hora.
És
a rota da Índia o sarcasmo do vento
a
cãibra do gajeiro o erro do sextante
o
acaso a maré o mapa a descoberta
dum
novo continente itinerante.
Ary
dos Santos
Sem comentários:
Enviar um comentário