Sete vezes!
Por sete vezes no
caminho entre a minha modesta habitação e a prosaica estação de
caminho-de-ferro fui abordado.
As BR (leia-se
Brigadas Religiosas) estavam activas hoje, tendo definido o meu bairro como
coutada de caça.
Cada uma em linha
de vista da seguinte, quem quer que passasse seria agarrado por alguma delas,
senão por todas.
E não adiantava de
nada recusar a conversa de uma. A seguinte tentaria na mesma.
Nada tenho em
particular contra estas pessoas. Afinal, estão a fazer aquilo em que acreditam,
trabalhar por uma fé. E se eu tenho a minha, bem mais pagã é certo, também eles
terão direito a fazer uso da sua.
Desde que não
chateiem, caramba!
Tento eu ser
simpático ao recusar as suas conversas. Respeito-os mas elas não me interessam.
Mas há limites para além dos quais a paciência se esgota de todo.
Sete vezes, bolas!
Há uns anos,
estava eu no meu papel de fotógrafo À-Lá-Minuta no Jardim da Estrela, e foi
este invadido por três pares de senhoras na sua missão de salvação de almas.
Não podendo eu fugir,
fui abordado.
Mas não aceitaram
um delicado “não estou interessado” e não me largaram.
Ao fim de um
pedaço acabei por resolver o problema com um discurso mais ou menos assim:
“As senhoras
prometem a felicidade eterna num mundo que não conhecemos que não pela fé e do
qual não há testemunhos vivos.
Eu promovo a
felicidade aqui e agora, ao provocar uns sorrisos com as minhas fotografias palpáveis
e gratuitas e conversas bem-dispostas.
Qual de nós tem
mais sucesso?”
Olharam para mim
como se exalasse um hálito a enxofre, titubearam umas respostas sem nexo e
abalaram. Não sei o que levavam na alma, mas foi o suficiente para dissuadirem
as suas amigas de virem ter comigo.
Sendo que já não
sou fotógrafo de jardim, irei passar a usar de uma outra tirada, agora mesma
inventada:
“Toda a gente me
trata por JC. Querem contar-me algo que eu não conheça?”
Espero ser
suficiente para quando se me esgotar a paciência.
Sete vezes,
caramba! Vade retro!
By me
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