Parece
que hoje é o dia mundial da fotografia.
Não
sou lá grande entusiasta dos “dias mundiais de…” Fico sempre com aquela sensação
de que só aquele dia é que conta, seja lá para o que for, ficando os outros
dias reservados para trivialidades. Como o natal e a solidariedade.
No
meu caso a fotografia faz parte do quotidiano.
Seja
como for, este é o dia. E, para além do boneco, deixo-vos com uma histórinha,
velha de umas dezenas de anos.
Gravava
eu Macbeth.
Tratava-se
da transposição para estúdio da versão de palco de uma encenação peculiar. Sendo
que o realizador fora o encenador, a adaptação era fácil e fiel. E, segundo ele
nos explicou, procurara que fosse também fiel às encenações originais no
tocante a marcações de cena e cenários. Tal como a planificação e iluminação.
Foi
um daqueles trabalhos que, mesmo não tendo tido grande sucesso junto do público,
mais gozo me deu fazer e em que muito aprendi. Sobre teatro, sobre Shakespeare,
sobre o meu ofício.
E
sobre fotografia.
No
segundo (ou terceiro) dia de gravações, veio um fotógrafo fazer as fotografias
de cena. Normal.
O
que era menos comum era ele ser britânico. O que por cá se fazia não merecia
esse tipo de atenções. Mas, talvez, por ser a peça que era, do autor que era,
com a encenação que era…
Trabalhava
ele com uma câmara SLR de médio formato. Não garanto já se seria uma Bronica se
uma Hasselblad. Talvez que Bronica, que tenho uma vaga lembrança de a câmara
ser preta. Pouco comum, ver este tipo de câmara a trabalhar num estúdio que não
de fotografia. Pelo menos neste cantinho, onde a fotografia não tinha (não tem)
grande impacto.
O
que era realmente raro, único para mim e até hoje, é que ele, o fotógrafo, não
tinha o braço esquerdo. Apenas um coto.
A
câmara possuía motor, tinha um punho por baixo, e era assim que ele a usava. Era
pendurada no pescoço que ele ajustava o foco, era pendurada no pescoço que ele mudava
o rolo, era pendurada no pescoço que ele mudava de objectiva (usava duas) e
tudo feito apenas com uma mão e com uma facilidade e naturalidade que me deixou
de boca aberta.
A
ponto de ainda hoje, passados todos estes anos, me recordar vivamente do que vi
então.
Não
sei em que circunstâncias perdeu ele o braço. Se antes ou depois de começar a
fotografar. Mas não tenho dúvidas que a sua paixão pelo seu trabalho não
deixava que uma coisa “menor” como o não ter um braço o impedisse de fazer aquilo
que queria e de que gostava: fotografia.
No
dia mundial da fotografia fica o recado àqueles que, a torto e a direito, se
queixam de tudo: do tempo, da luz, das dores, da falta de condições, da falta
daquela peça de equipamento, da falta de assunto…
Fotografia
faz-se não importa como, quando, onde ou o quê. Basta querer!
By me
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