domingo, 10 de agosto de 2014

Super Lua ou talvez não



É previsível que hoje, domingo, estejam muitas câmaras apontadas para o céu à noite. Isto porque, e além de ser verdade, o jornais se têm encarregado de divulgar que hoje haverá uma Super-Lua.
Isto porque, na sua órbita em torno da Terra, esta noite estará num dos pontos mais próximos, coincidindo isto com o facto de ser Lua-Cheia. Muitos serão os que irão fotografar a ocasião.
Mas também muitos serão os que, em vendo posteriormente as fotografias feitas, não se sentirão lá muito satisfeitos com o resultado conseguido.
A esse respeito, gostaria de deixar aqui algumas considerações, ainda que muito provavelmente eu não possa fazer fotografias esta noite. O trabalho não o irá permitir.

1 – A Lua parecerá grande porque mais próxima de nós. Mas não o suficiente para encher os céus. O seu aumento de tamanho será de cerca de 10% o que, sendo bastante, não é o suficiente para ficar um “monstro”.

2 – A Lua, tal como o Sol, parecem-nos sempre maiores quando sobem e quando descem no horizonte. Nada tem a ver com distâncias mas antes com o facto de, nessas circunstâncias, estarem numa posição tal que o que vemos atravessa mais atmosfera que se estivessem lá bem no alto. E essa atmosfera faz o papel de lente, alterando o percurso dos raios luminosos e aumentando aparentemente o tamanho do que vemos.

3 – O conceito que temos de grande e de pequeno depende sempre de escalas e de comparações. É sempre possível encher um enquadramento com a lua, seja qual for a sua posição no céu. Seja feita hoje ou aquando da lua-cheia anterior. E em ambos os casos parecerá grande. Podemos mostrá-la maior ainda se, junto com ela, estiver algo que defina escala e que nos dê a sensação de ser ainda maior.
A técnica, nestes casos, é simples: incluir na imagem algo de tamanho conhecido. Um prédio, uma estátua, um depósito de água. Sabemos serem altos, conhecemos-lhes os tamanhos e podemos, a partir disso, deduzir o tamanho da Lua.
Acontece que para isso há que jogar com um outro efeito: perspectiva.
Para que ambos fiquem realmente grandes na imagem, há que escolher um ponto de vista distante do objecto conhecido. Bem distante. E usar de uma objectiva razoavelmente potente (ou em alternativa de uma ampliação posterior) de tal forma que ambos fiquem grandes na imagem. Num ponto de vista próximo do objecto conhecido, este ficará grande e a lua pequena, sem o efeito que queremos.

4 – Haverá também que considerar um outro aspecto que, desprezado, constitui motivo de frustração para muitos fotógrafos inexperientes: a exposição.
Se considerarmos apenas a relação “tempo/abertura/sensibilidade” feita pela câmara, obteremos em geral uma imagem em que a lua mais não é que um disco branco no céu. Em nada corresponde à suavidade do que vimos. Isto acontece porque aquando da medição de luz incluímos uma boa porção de céu, negro, e a câmara tem a tendência de compensar essa “escuridão”. Mas se pensarmos um pouco naquilo que estamos a fotografar, esse problema resolve-se.
A Lua é um planeta e, como tal, não emite luz. A luz que dela vemos é a que provém do Sol, tal e qual como na Terra. Assim, e em condições ideais, para se obterem exposições da superfície da Lua de modo a que vejamos os seus detalhes, haverá que expor ou ajustar a câmara de igual forma ao que faríamos a um assunto na Terra. Usando a “regra do f:16”, com uma sensibilidade de ISO 100 e diafragma f:16, um tempo de exposição de 1/100’’.
Claro que estes valores são aproximados, dependendo em grande parte da limpidez da atmosfera – humidade e poeiras no ar. Mas se se partir destes valores e se se fizerem variações entre um a cinco pontos de diafragma, ficar-se-á com uma lua bonita e detalhada.

5 – Outro aspecto a considerar – e que tem provocado muitas frustrações – é a cor da Lua.
Os novatos ou menos experientes usam a sua câmara com o balanço de brancos (WB) em automático. Os experientes também, mas consideram isso como uma opção e não como uma obrigação.
Acontece que a Lua, tal como o Sol, quando sobe ou desce no horizonte e porque os raios luminosos atravessam as poeiras e humidade baixas na atmosfera, assumem aquelas cores na gama dos laranja de que tanto gostamos. Mas esses laranja são demasiado para o automatismo da câmara, que tentará corrigi-los. Resultando numa Lua nascente branca, como a sabemos ser, mas sem a cor vimos e gostámos.
A solução é simples: mudar o balanço de brancos para “luz de dia”. Os candeeiros de rua ou o que por eles esteja iluminado ficarão azulados, amarelados ou esverdeados, mas a Lua ficará com aquela cor que nos encheu o olho.

6 – Saiba-se ainda que, e de acordo com o Observatório Astronómico de Lisboa e considerando a Hora Legal, o momento de Lua-Cheia acontece às 19:09 horas e que a Lua nascerá, em Lisboa, às 20:16 horas. Esta diferença de pouco mais de uma hora em quase nada afectará o seu tamanho visível. Basta estar no sítio certo na hora certa.

Boas fotos e desejos de um céu limpo.


(Nota extra: a imagem exibida foi feita da minha janela há quatro anos, numa noite em que a Lua brincava às escondidas com as nuvens. Não era noite de Super-Lua.)

By me

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