É
previsível que hoje, domingo, estejam muitas câmaras apontadas para o céu à
noite. Isto porque, e além de ser verdade, o jornais se têm encarregado de
divulgar que hoje haverá uma Super-Lua.
Isto
porque, na sua órbita em torno da Terra, esta noite estará num dos pontos mais
próximos, coincidindo isto com o facto de ser Lua-Cheia. Muitos serão os que
irão fotografar a ocasião.
Mas
também muitos serão os que, em vendo posteriormente as fotografias feitas, não
se sentirão lá muito satisfeitos com o resultado conseguido.
A
esse respeito, gostaria de deixar aqui algumas considerações, ainda que muito
provavelmente eu não possa fazer fotografias esta noite. O trabalho não o irá
permitir.
1
– A Lua parecerá grande porque mais próxima de nós. Mas não o suficiente para
encher os céus. O seu aumento de tamanho será de cerca de 10% o que, sendo
bastante, não é o suficiente para ficar um “monstro”.
2
– A Lua, tal como o Sol, parecem-nos sempre maiores quando sobem e quando
descem no horizonte. Nada tem a ver com distâncias mas antes com o facto de,
nessas circunstâncias, estarem numa posição tal que o que vemos atravessa mais
atmosfera que se estivessem lá bem no alto. E essa atmosfera faz o papel de
lente, alterando o percurso dos raios luminosos e aumentando aparentemente o
tamanho do que vemos.
3
– O conceito que temos de grande e de pequeno depende sempre de escalas e de
comparações. É sempre possível encher um enquadramento com a lua, seja qual for
a sua posição no céu. Seja feita hoje ou aquando da lua-cheia anterior. E em
ambos os casos parecerá grande. Podemos mostrá-la maior ainda se, junto com
ela, estiver algo que defina escala e que nos dê a sensação de ser ainda maior.
A
técnica, nestes casos, é simples: incluir na imagem algo de tamanho conhecido.
Um prédio, uma estátua, um depósito de água. Sabemos serem altos,
conhecemos-lhes os tamanhos e podemos, a partir disso, deduzir o tamanho da
Lua.
Acontece
que para isso há que jogar com um outro efeito: perspectiva.
Para
que ambos fiquem realmente grandes na imagem, há que escolher um ponto de vista
distante do objecto conhecido. Bem distante. E usar de uma objectiva
razoavelmente potente (ou em alternativa de uma ampliação posterior) de tal
forma que ambos fiquem grandes na imagem. Num ponto de vista próximo do objecto
conhecido, este ficará grande e a lua pequena, sem o efeito que queremos.
4
– Haverá também que considerar um outro aspecto que, desprezado, constitui
motivo de frustração para muitos fotógrafos inexperientes: a exposição.
Se
considerarmos apenas a relação “tempo/abertura/sensibilidade” feita pela
câmara, obteremos em geral uma imagem em que a lua mais não é que um disco
branco no céu. Em nada corresponde à suavidade do que vimos. Isto acontece
porque aquando da medição de luz incluímos uma boa porção de céu, negro, e a
câmara tem a tendência de compensar essa “escuridão”. Mas se pensarmos um pouco
naquilo que estamos a fotografar, esse problema resolve-se.
A
Lua é um planeta e, como tal, não emite luz. A luz que dela vemos é a que
provém do Sol, tal e qual como na Terra. Assim, e em condições ideais, para se
obterem exposições da superfície da Lua de modo a que vejamos os seus detalhes,
haverá que expor ou ajustar a câmara de igual forma ao que faríamos a um
assunto na Terra. Usando a “regra do f:16”, com uma sensibilidade de ISO 100 e
diafragma f:16, um tempo de exposição de 1/100’’.
Claro
que estes valores são aproximados, dependendo em grande parte da limpidez da
atmosfera – humidade e poeiras no ar. Mas se se partir destes valores e se se
fizerem variações entre um a cinco pontos de diafragma, ficar-se-á com uma lua
bonita e detalhada.
5
– Outro aspecto a considerar – e que tem provocado muitas frustrações – é a cor
da Lua.
Os
novatos ou menos experientes usam a sua câmara com o balanço de brancos (WB) em
automático. Os experientes também, mas consideram isso como uma opção e não
como uma obrigação.
Acontece
que a Lua, tal como o Sol, quando sobe ou desce no horizonte e porque os raios
luminosos atravessam as poeiras e humidade baixas na atmosfera, assumem aquelas
cores na gama dos laranja de que tanto gostamos. Mas esses laranja são
demasiado para o automatismo da câmara, que tentará corrigi-los. Resultando
numa Lua nascente branca, como a sabemos ser, mas sem a cor vimos e gostámos.
A
solução é simples: mudar o balanço de brancos para “luz de dia”. Os candeeiros
de rua ou o que por eles esteja iluminado ficarão azulados, amarelados ou
esverdeados, mas a Lua ficará com aquela cor que nos encheu o olho.
6
– Saiba-se ainda que, e de acordo com o Observatório Astronómico de Lisboa e
considerando a Hora Legal, o momento de Lua-Cheia acontece às 19:09 horas e que
a Lua nascerá, em Lisboa, às 20:16 horas. Esta diferença de pouco mais de uma
hora em quase nada afectará o seu tamanho visível. Basta estar no sítio certo
na hora certa.
Boas
fotos e desejos de um céu limpo.
(Nota
extra: a imagem exibida foi feita da minha janela há quatro anos, numa noite em
que a Lua brincava às escondidas com as nuvens. Não era noite de Super-Lua.)
By me
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