É
certo que estive na rua em protesto. Em protesto contra o que acontece na
Palestina, tanto do ponto de vista histórico como na actualidade.
E
estive lá na condição de cidadão, na condição de fotógrafo e na condição de
fotocronista (ou cronofotógrafo), que é o que venho sendo nos últimos anos.
Enquanto
cidadão não gritei muito nem apitei apitos. Apenas fiz número com os demais.
Talvez que o dia ter começado pelas 3 da manhã ajudasse a esta retracção. Ou
mesmo a minha personalidade.
Enquanto
fotógrafo não fiz grande coisa. O espaço não ajudava porque exíguo, a luz não
seria a melhor, eu não me sentia particularmente inspirado ou eu, de facto, não
sou um foto-reporter. Fiz alguma coisa, que já por aqui exibi, mas nada de
especial.
Enquanto
fotocronista (ou cronofotógrafo), tentarei agora dar um ar da minha graça, se
bem que sem graça nenhuma.
Porque
regressei do protesto bem furioso com o que por lá vi.
Não
com o motivo do protesto. Quem não se sentiria furioso com o motivo que ali
levou aqueles milhares de pessoas.
Não
por ter visto por lá gente de todos as cores, credos e idades, irmanados no
protesto. Creio, aliás, que só vi tanta gente de tão tenra idade e tantas grávidas
na rua em protesto na manifestação de 15 de Setembro de há dois anos.
Nem
sequer por lá ter visto algumas figuras públicas e da política. Que, e para além
do que possam fazer na vida, são cidadãos que também se podem (e devem) indignar
com chacinas e morticínios.
O
que me deixou realmente furioso foi ter tido oportunidade de fazer esta
fotografia, e mais umas tantas que não fiz de furioso que estava. Este cartaz e
as bandeiras equivalentes que o circundaram. Aqui parados e em trânsito pelas
avenidas.
Que
tentar assim tirar dividendos político-partidários de uma manifestação que nem
sequer tem algo a ver com o país mas antes com a morte de inocentes na outra
ponta do Mediterrâneo, que tentar ganhar visibilidade (e votos) para uma
organização partidária quando se protesta contra um genocídio, que exibir bem
alto a bandeira de um partido quando a que deveria ali estar seria, em última
análise, a do ser humano…
Fiquei
furioso!
Fiquei
furioso o suficiente para aqui deixar bem identificado o partido que quis
aproveitar-se da morte de crianças a dormir. Fiquei furioso mais que suficiente
para aqui deixar o meu testemunho enquanto cidadão, enquanto fotógrafo e
enquanto fotocronista (ou cronofotógrafo).
E
fiquei furioso mais que suficiente para aqui deixar bem claro que, se já não
simpatizava particularmente com algumas teorias que este partido defende, tanto
no tocante à prática política como ao conceito de sociedade que encontra nas
entrelinhas do que afirma nos seus documentos, agora passei a ter um sentimento
bem feio a seu propósito e das suas práticas públicas.
Fica
o protesto do cidadão, o protesto do fotógrafo e o protesto do fotocronista (ou
cronofotógrafo).
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário