sábado, 2 de agosto de 2014

Fotocronista ou cronofotógrafo



É certo que estive na rua em protesto. Em protesto contra o que acontece na Palestina, tanto do ponto de vista histórico como na actualidade.
E estive lá na condição de cidadão, na condição de fotógrafo e na condição de fotocronista (ou cronofotógrafo), que é o que venho sendo nos últimos anos.
Enquanto cidadão não gritei muito nem apitei apitos. Apenas fiz número com os demais. Talvez que o dia ter começado pelas 3 da manhã ajudasse a esta retracção. Ou mesmo a minha personalidade.
Enquanto fotógrafo não fiz grande coisa. O espaço não ajudava porque exíguo, a luz não seria a melhor, eu não me sentia particularmente inspirado ou eu, de facto, não sou um foto-reporter. Fiz alguma coisa, que já por aqui exibi, mas nada de especial.
Enquanto fotocronista (ou cronofotógrafo), tentarei agora dar um ar da minha graça, se bem que sem graça nenhuma.
Porque regressei do protesto bem furioso com o que por lá vi.
Não com o motivo do protesto. Quem não se sentiria furioso com o motivo que ali levou aqueles milhares de pessoas.
Não por ter visto por lá gente de todos as cores, credos e idades, irmanados no protesto. Creio, aliás, que só vi tanta gente de tão tenra idade e tantas grávidas na rua em protesto na manifestação de 15 de Setembro de há dois anos.
Nem sequer por lá ter visto algumas figuras públicas e da política. Que, e para além do que possam fazer na vida, são cidadãos que também se podem (e devem) indignar com chacinas e morticínios.
O que me deixou realmente furioso foi ter tido oportunidade de fazer esta fotografia, e mais umas tantas que não fiz de furioso que estava. Este cartaz e as bandeiras equivalentes que o circundaram. Aqui parados e em trânsito pelas avenidas.
Que tentar assim tirar dividendos político-partidários de uma manifestação que nem sequer tem algo a ver com o país mas antes com a morte de inocentes na outra ponta do Mediterrâneo, que tentar ganhar visibilidade (e votos) para uma organização partidária quando se protesta contra um genocídio, que exibir bem alto a bandeira de um partido quando a que deveria ali estar seria, em última análise, a do ser humano…
Fiquei furioso!
Fiquei furioso o suficiente para aqui deixar bem identificado o partido que quis aproveitar-se da morte de crianças a dormir. Fiquei furioso mais que suficiente para aqui deixar o meu testemunho enquanto cidadão, enquanto fotógrafo e enquanto fotocronista (ou cronofotógrafo).
E fiquei furioso mais que suficiente para aqui deixar bem claro que, se já não simpatizava particularmente com algumas teorias que este partido defende, tanto no tocante à prática política como ao conceito de sociedade que encontra nas entrelinhas do que afirma nos seus documentos, agora passei a ter um sentimento bem feio a seu propósito e das suas práticas públicas.


Fica o protesto do cidadão, o protesto do fotógrafo e o protesto do fotocronista (ou cronofotógrafo).

By me 

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