É
uma teoria antiga que tenho.
Ainda
não me dei ao trabalho de a escrever por completo, porque não só as pesquisas
que a consolidem abrangem campos muito variados e que não domino em
profundidade, como organizar estas ideias sob a forma de letras sólidas é algo
de muito trabalhoso. E preguiça é o meu nome do meio.
Em
qualquer dos casos, aqui fica:
A
fotografia não é actividade de gente jovem!
Mas,
antes que me batam ou me desprezem, leiam toda a argumentação sumária e a
própria contra-argumentação.
Se
a fotografia é uma forma de comunicação, o órgão sensorial de base é a visão.
Este
é o que leva mais tempo a maturar. Não apenas no que aos recém-nascidos diz
respeito, que levam semanas e meses a identificar cores, formas, distâncias,
como mesmo a chegar ao estado adulto de desenvolvimento biológico e
psicológico, atingindo este ponto a partir dos 16/18 anos de idade.
Acrescente-se que a sua complexidade orgânica e psico-motora é tal que é a área
da medicina que possui maior número de doenças e mal-formações indexadas e que
é o órgão sensorial que primeiro perde funções em casos extremos de
sobrevivência do individuo.
Por
outro lado, a complexidade do ser humano não se satisfez com a efemeridade da
comunicação oral ou gestual. Havia que tornar permanente as mensagens, para
suprir as falhas de memória dos retransmissores e para chegar a muitos
receptores.
Daí
que a oralidade e gestualidade tenham encontrado a materialização, através de
suportes e códigos incipientes ou complexos, de entendimento geral ou restrito:
A escrita, a pintura, a escultura e, no caso vertente, a fotografia.
Mas
acontece que a comunicação não é uma actividade unívoca. Quem comunica espera
que a sua mensagem seja recebida e entendida. E, para saber se assim é, espera
uma informação de retorno, acusando a recepção e interpretação – o feed-back.
Isto
acontece na oralidade, na gestualidade, na música e demais artes de
representação ou de palco. O receptor, interlocutor ou público alargado, vêem,
ouvem e reagem de imediato. Anuindo ou contestando, aplaudindo ou vaiando. Até
a própria ausência de manifestação é uma manifestação!
Nas
artes visuais tal não sucede. O suporte de comunicação é trabalhado, em regra
num espaço e tempo íntimos e reservados, e só depois de concluído é exposto ao
receptor. E fica, mesmo na ausência do autor, para ser visto, interpretado,
apreciado. O feed-back do receptor, a acontecer, é muito posterior à criação da
mensagem, criando um hiato bem grande entre os dois momentos.
Por
outro lado ainda, a materialização da mensagem implica matéria-prima para a
produzir. E conhecer as suas técnicas. E custos na sua obtenção.
Enquanto
que a oralidade, a gestualidade e demais formas de comunicação imediatas se
podem fazer com recurso a poucos ou nenhuns objectos ou consumíveis (cantar,
falar, dançar, assobiar, percutir…) a materialização de mensagens implica
papel, tinta, caneta, telas, pedra, cinzéis, câmaras, películas, químicos,
arquivos… E todo o que é necessário para os produzir e obter.
Por
fim, consideremos que a comunicação gestual ou sonora é também um factor
social.
A
música, a palavra, a dança junta quem com a forma ou conteúdo se identifica.
Por motivos culturais de hábito ou contestação, por interacção social nas
relações materiais ou de género, com códigos e manifestações de um-para-todos
ou de todos-para-todos, como pode ser um recital, um hino nacional, o baile da
paróquia ou uma declaração de amor.
Já
a comunicação materializada não é agregadora. Ninguém se junta em torno de quem
escreve, pinta ou esculpe. Ou fotografa. Mesmo o usufruto do trabalho final é
individual ou muito pouco gregário.
Introduza-se
agora o factor idade e juventude!
Os
jovens são, por natureza, aprendizes, experimentadores, consumidores rápidos,
buscadores de sensações e de identidade individual e colectiva.
Durante
a infância e juventude, o ser humano está a aprender as regras e códigos da sua
sociedade, quer se trate das interpessoais ou técnicas e práticas de produção e
sobrevivência. Numa primeira fase da vida segue exemplos, numa segunda
contesta-os, procurando a sua própria forma de ser e estar.
E
porque a sociedade é complexa nas suas interacções e tecnologias, estas
experiências passam por inúmeros falhanços e algumas vitórias pelo caminho.
Assim, há que ir experimentando para alterar esta relação, aumentando o número
de satisfações e reduzindo as insatisfações.
Na
comunicação, em que o feed-back é vital para a obtenção da satisfação, os
processos morosos e de retorno tardio não são os mais recompensadores. Este
atraso redunda em insatisfação e é dela que o jovem foge.
É
assim, por tudo o enunciado, que vamos encontrar a maioria – a grande maioria –
dos jovens envolvidos em processos de comunicação imediata, com um atraso no
feed-back pequeno ou nulo, quer seja enquanto consumidores ou enquanto
produtores de mensagens. A comunicação sonora ou gestual.
Todos
eles passam, até porque faz parte do processo de aprendizagem socialmente
instituída, pela materialização da comunicação. Aprendem a escrever e ler,
desenhar e esculpir e também a fotografar.
Mas
acabam por as abandonar, pelo timing do feed-back, pela tardia maturação do
órgão sensorial e processos associados, pelos custos da matéria-prima, por não
servir como acto social.
É
evidente que alguns há que se mantêm como utilizadores destes processos.
Porque
encontraram satisfação na actividade, porque são precoces, porque têm acesso
aos meios de produção ou por não necessitarem de uma afirmação social e pessoal
do mesmo cariz dos demais do seu grupo etário. Mas são poucos!
Nos
tempos que correm, na chamada “sociedade de informação”, as coisas estão a
mudar!
A
facilidade de produção da comunicação materializada – no caso da fotografia, a
digital e o custo zero na produção de imagens -, a rapidez e imediatismo na
produção e exibição das imagens – internete, telemóveis -, o facto de ser
novidade e moda – o que define grupos de identificação e, de alguma forma, de
contestação à geração anterior – faz com que cada vez mais jovens usem a
fotografia como forma de expressão e comunicação.
Em
tentativas mais ou menos “artísticas” (o que quer que isso seja), apenas porque
apetece fazer ou porque apetece mostrar, o fazer da fotografia é agora fácil,
rápido, de feed-back quase imediato e de satisfação bem mais atingível.
Esta
nova geração da informação e digital produzirá, espero eu, um muito maior
número de fotógrafos/comunicadores de qualidade.
Assim
tenham a oportunidade de o tentarem, errarem, satisfazerem-se e aprenderem. E
pensarem em profundidade no que produzem e comunicam.
E
isto depende, em regra, de um factor não tecnologicamente modificável: tempo de
vida!
By me
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