Há
dez anos verberava eu assim.
Hoje
continuo a pensar exactamente do mesmo modo.
Ou
eu cristalizei ou os motivos mantêm-se, tanto para dizer sim como para dizer não.
Há
quem vá a Fátima ou à Zambujeira. Todos os anos e nas datas previstas. Eu
prefiro ir a Braga.
A
Braga e a Coimbra.
Não
se trata de uma questão de fé nem da manutenção de uma rotina. É mesmo uma
necessidade de lá ir, naquelas duas alturas do ano. À procura de alimento. Para
a alma.
São
os Encontros de Fotografia de Coimbra e os Encontros de Imagem de Braga.
Não
só são uma justificação para fazer umas mini-férias de três dias como vou beber
nos trabalhos de outros inspirações para os meus.
Estas
minhas romarias são, pouco mais ou menos, como quem bebe café quando tem sono.
Vou até lá para espantar o marasmo fotográfico da rotina
casa-trabalho-casa-trabalho, sempre com as mesmas paisagens, sempre com os
mesmos encontros.
Os
locais, as gentes, a luz, as situações, nas suas diversidades diárias acabam
por ser um rame-rame quotidiano, em que a capacidade de um se surpreender e se
agradar diminui francamente.
Estes
retiros visual-espirituais permitem-me durante alguns dias ter a imagem, nas
suas diversas vertentes, como o objectivo primordial. O mundo e o Homem, vistos
por outros olhares, escritos por outras penas.
Vou
ali limpar as lentes do meu cristalino, sacudir as poeiras do meu córtex,
desenferrujar as articulações do meu digito virtual.
Os
choques térmicos, lúmicos e hídricos das entradas e saídas das salas de
exposição, o percorrer os becos, vielas e praças já conhecidas e ir constatando
as mudanças que o ciclo solar lhes imprimiu, o sentar na mesma esplanada ou
restaurante e olhar com cumplicidade para os empregados e clientes que mudaram
mas são os mesmos…
Todas
estas pequenas mudanças mais não fazem que reforçar o choque vitamínico de
imagem que nestas duas cidades vou receber duas vezes por ano.
Aqui
ao pé da porta tenho um evento igualmente importante no contexto da fotografia:
o World Press Photo. Mas recuso-me a lá ir. E, quando dava aulas,
desaconselhava os alunos a lá irem.
Quem
ninguém se engane: a qualidade das imagens aqui apresentadas é elevada, na sua
maioria. Ver esta exposição é sempre aprender um pouco mais sobre o género
humano, como se comporta e como vê.
Mas
não contribuo, com o valor do meu ingresso e com a minha presença nas
estatísticas, para um evento onde a maioria das imagens expostas são sobre
violência.
Violência
da natureza, violência dos azares, violência do homem. Calamidades, acidentes,
guerras e assassínios, são os temas maioritariamente tratados nas imagens ali
expostas. Porque foram as imagens seleccionadas pelos editores das publicações
para fazerem capas ou páginas centrais. E são essas que vão a concurso.
Como
se as emoções humanas se restringissem à dor e ao sofrimento.
Esta
visão do ser humano não pode nem deve ser A visão.
Pode
ser e é UMA visão.
De
entre muitas existentes. Que muitos milhares de fotógrafos de qualidade,
amadores ou profissionais têm vindo a ter ao longo dos tempos.
Assim,
prefiro ir uma vez por ano a Braga e a Coimbra, ver e pensar fotografia no seu
todo. Coisas boas e coisas más, tudo à mistura, como a vida realmente é.
By me
1 comentário:
Para quem vai a Braga fica a sugestão...
http://www.diario.roteirooficinaldoporto.com/post/61605077247/noventa-e-seis-mil-maquinas-fotograficas
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