Não
andava nem depressa nem devagar. Andava na sua velocidade.
Chegava-se
aos clientes, recebia as suas encomendas, desaparecia por entre as prateleiras
e regressava com os braços cheios de papeis, sobrescritos, canetas, borrachas,
réguas, lápis, blocos e cadernos, o que quer que fosse que lhe tivessem pedido.
Volta e meia voltava atrás para confirmar um detalhe, mas tudo vinha aparecendo
em cima do balcão.
Aliás
o balcão de madeira, vetusto e carcomido pelos embates dos pacotes, pouco mais
velho seria que aquele caixeiro que nele pousava o que vendia.
Quando
entrei, já lá estariam uns três ou quatro clientes que pacatamente aguardavam
vez.
De
súbito tocou o telefone. Ninguém reagiu, até porque os telemóveis eram uma
invenção do futuro. E aquele de digital tinha apenas o dígito com que se rodava
o mostrador.
TRiiiiim.
TRiiiiim. TRiiiiim.
Nem
o bom do vendedor se interrompeu, que o ignorava como se de um surdo total se
tratasse, continuando na sua tarefa de atender o cliente.
TRiiiiim.
TRiiiiim. TRiiiiim.
Ao
fim de um pedaço, um dos outros clientes que, como eu, aguardava vez e achava
estranho que ele não o atendesse, chamou-lhe a atenção para o aparelho que
retinia.
A
resposta foi bem clara:
“O
telefone só toca porque clientes que não querem esperar gostam de fazer as suas
encomendas e tê-las prontas quando cá chegam.
Mas
os senhores já cá estavam. Quando chegar a vez dele, logo o atendo. É a seguir
àquele cavalheiro!”
O
silêncio que se fez só era interrompido pelo toque estridente da campainha. Que
cedo se calou. Quem quer que estivesse do outro lado do fio deve ter percebido
a lição.
E
quem diz que há que ter um curso superior para dar lições?...
By me
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