TV’s,
DVD’s, joystick’s, videojogos, computadores…
Educativos,
sem dúvida; incrementadores de lógica, evidentemente; preparadores para a
tecnologia futura, verdade; dores de cabeça, olhos cansados precocemente,
disfunções sociais, igualmente….
E
dantes o que havia de bom e de mau? A imaginação não dependia de um ecrã e os
livros infantis, manuseados a meias com os mais velhos, iam alimentando o
caudal de novos conhecimentos. A TV era mesmo só volta e meia e a partir das 6
da tarde.
Rezam
as crónicas familiares, que eu não me recordo desta estória, que quando saímos
daquela casa eu ainda não sabia ler. Foi a única com quintal que habitei, e
este era o meu mundo.
Com
montanhas e vales, florestas e desertos, tantos quantos cabem num quintal
citadino.
Uma
tarde, suponho que fosse de tarde, minha mãe lavava roupa e eu cavalgava no meu
corcel, que bem se poderia chamar “Silver”.
Terei
decidido ir muito longe nesta minha viagem, até ao quintal vizinho… através do
muro.
Contam
que nem chorei, surpreendido por não ter conseguido saltar. Afinal era apenas
um pouco mais alto que eu…
Contam
também que nunca um galo na testa terá crescido tão depressa nem fez tanta
inveja aos ovos de galinhas conhecidas que se vendiam de porta-a-porta.
Talvez
por isso tenha ficado a odiar muros e fronteiras, limites e impossibilidades. E
tenha perdido uns parafusos no processo.
“Cavaleiro
do cavalo de pau
Vai
a galope o cavaleiro e sem cessar
Galopando
no ar sem mudar de lugar.
E
galopa e galopa e galopa, parado,
E
galopa sem fim nas tábuas do sobrado.
Oh,
que bravo corcel, que doidas galopadas,
-
Crinas de estopa ao vento e as narinas pintadas!
Em
curvas pelo ar, em velozes carreiras,
O
cavalo de pau é o terror das cadeiras!
E
o cavaleiro nunca muda de lugar,
A
galopar a galopar a galopar!...”
Afonso
Lopes Vieira
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