Um
destes dias alguém que estimo colocou-me uma questão académica, que lhe tinha
sido colocada por um académico:
O
que é uma fotografia original?
Durante
anos, quando apenas trabalhava com película, sempre tive a mesma atitude com
quem fotografava: “Não entrego os originais!” Com isto queria dizer que o
negativos ou diapositivos ficavam comigo e que, a partir deles poderia sempre
fazer a quantidade de cópias que entendesse, dentro do que haviamos combinado
previamente.
A
questão que me foi colocada vê as coisas de outra forma: serão os negativos os
originais ou o positivo, dado como pronto, é que o é?
Se
abordarmos as coisas do ponto de vista de Ansel Adams e dos seus seguidores de
método, será antes esta segunda possibilidade.
O
trabalho do fotógrafo, quer seja ele que faça a tomada de vista e a impressão
quer tenha um impressor a trabalhar para ele, só está pronto quando a imagem
está visível para o público. E isto após ter sido positivada ou passada para o
suporte final. Com todas as características técnicas que isso implica: brilho e
contraste, formato e tamanho, etc. Por vezes, até mesmo a moldura ou a forma
como é exposta é decisão do autor.
É
assim que cada trabalho, por muito suado e trabalhado que tenha sido, é peça
única. Todas as demais são cópias, de melhor ou pior qualidade.
Com
a fotografia digital, o mesmo se passa.
O
trabalhar o ficheiro produzido na câmara com um programa de tratamento de
imagem, pensando que ela vai ser vista num PC ou em papel ou numa revista ou
num out-door faz com que o resultado final seja único, seja original. Todos os
demais exemplares, mesmo com a fidelidade que o digital permite, são meras
cópias em tudo ou quase idênticas àquilo que o autor produziu.
Algumas
são reproduzidas aos milhares ou milhões, se se destinarem à imprensa, ou têm
uma visibilidade tão variável quanto os visitantes de uma dada página web. E
cada uma destas visitas resulta numa cópia, tão fiel quanto a calibração do
monitor do observador permite.
No
entanto, a grande maravilha da fotografia, para além do factor “congelação do
tempo” é exactamente a sua facilidade de reprodução, de distribuição
generalizada e de passagem da sua “mensagem” por muitos milhares ou milhões de
pessoas.
Assim,
será que é importante a posse de um original fotográfico? Será que pegar ou
olhar para uma folha de papel coberta de prata enegrecida ou de corantes e
dizer “Este é um original de …” é importante?
Para
além da sensação mística de “esta imagem prevaleceu ao longo dos tempos e eu
estou a olhar para ela” não sinto na fotografia o mesmo que sinto perante um
quadro pintado. Nem eu nem a grande maioria do público, para quem o que importa
é ver o que a imagem conta, o que ela descreve e transcreve do tempo que
congelou.
Excepto
certos trabalhos, de certos autores, que fazem ou fizeram questão de aprimorar
todos os detalhes, dos cinzas judiciosamente espalhados pela superfície ao
tamanho e impacto que ela provocará no espectador.
É
por isto, mas não só, que não coloco “photographias” minhas na web. Vou
colocando imagens, cópias nem sempre tecnicamente fieis de fotografias que vou
fazendo. Que a web não permite mostrar alguns factores: certas proporções
perdem-se pelo caminho das conversões automáticas dos servidores, o peso das
imagens na transmissão de dados não se compadece com grandes resoluções, a gama
tonal com a qual a dou por pronta dificilmente será reproduzida. Nem sequer sei
se tenho o meu próprio monitor ajustado. Sei apenas que, olhando aqui para o
que fiz, a dou por pronta. Ou que só gosto de a ver quando impressa com 50cm de
lado.
Os
originais, continuo a dizê-lo ainda hoje com o digital, estão aqui, nas minhas
paredes ou pastas ou nos discos rígidos.
No
entanto, a pergunta que se segue impõe-se:
“Será
que a vós, observadores do que aqui vou pondo, interessa ver o original ou tão
só a cópia?”
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário