sexta-feira, 21 de março de 2014

Confrontos



O texto e a fotografia datam de 2007. Faz hoje exactamente sete anos que o escrevi e publiquei.
Infelizmente, para a questão que nele coloco ainda não encontrei solução útil. De uma forma ou de outra, tem sido o “nada fazer” que tem sobrevivido.
(Como nota extra, e a título de curiosidade, repare-se como o número sete acaba por ser importante nas nossas vidas, de uma forma ou de outra. E, se não for no calendário (dias de semana) acaba por ser em tantas outras. Repare-se também como sete é um quarto de vinte e oito e que vinte e oito dias correspondem ao ciclo lunar completo.)
Mas passemos ao assunto importante:


Por vezes somos apanhados nestas encruzilhadas!

Há mais de trinta anos que vou lidando com imagem, fotográfica, videográfica e, muito esporádica e pouco profundamente, cinematográfica.
Tenho-a feito, degustado, analisado, estudado, sendo que continuarei a fazê-lo enquanto tiver forças para tal.
Apesar de nunca me ter preocupado - e continuarei a não me preocupar - com títulos académicos, canudos ou certificados, o certo é que volta e meia sou chamado a dar formação sobre o pouco que sei, tentando passar para os alunos ou formandos o que de teórico e prático tenho vindo a aprender. Com o que tenho feito, com o que tenho aprendido e com aqueles que me têm dado a honra e prazer de me ensinar.

Mas, nesta actividade didáctica a que me tenho dedicado, um dos problemas com que me tenho debatido é a falta de bibliografia adequada para recomendar. Os textos e assuntos que interessam (teóricos, práticos ou subjectivos) estão distribuídos por muitas e variadas obras, algumas muito superficiais, outras demasiado profundas ou complexas. E, pior ainda que isso, a grande maioria são de autores de língua estrangeira, editados nela ou traduzidos para português nem sempre com o maior dos cuidados.
Já me aconteceu ver-me em tamanhos assados que me vi na contingência de criar sebentas ou, se preferirem, conjuntos de textos retirados daqui e dali, alguns de minha própria e pobre autoria, tentando que, para o grupo de trabalho do momento, contivessem a informação pertinente. Com as certezas que a ciência permite e exige e com o grau de complexidade que os alunos atinjam e digiram.

Para minha alegria, chegou-me um dia às mãos uma obra de um autor português que abrange as matérias que interessam. Como formiga por açúcar, logo nele mergulhei, primeiro superficialmente, de seguida mais em profundidade. E fiquei seriamente frustrado.
A obra em questão contém tantos e tamanhos erros científicos e conceptuais que quase me sinto envergonhado de a possuir. Para já não falar em conceitos mais subjectivos e, por conseguinte, discutíveis.
Depois de a ler de imediato fiquei com uma certeza: este livro nunca o recomendarei e, provavelmente, alertarei eventuais alunos que venha a ter para que não o considerem, face à quantidade e calibre desses mesmos erros.

Mas se a coisa ficasse por aqui, não seria mau.
Acontece que a obra em causa é publicada com a chancela de uma instituição de ensino superior e assinada por quem tem graus académicos de alto gabarito. O que lhe confere uma credibilidade que não merece.
Face ao perigo de desinformação e desensino que esta obra é, se cair em mãos de estudantes desavisados ou curiosos em livrarias, ignorantes do seu conteúdo, fico sem saber o que fazer.
Ou coisa nenhuma e correr o risco de, num futuro, ser com ele confrontado por alunos que o possam vir a ler;
Dar-me ao trabalho de o corrigir, ponto por ponto, e de enviar essa correcção para a universidade em causa, levando a que essa obra seja eventualmente reeditada com as correcções, e os créditos atribuídos a quem não os merece;
“Pôr a boca no trombone” nos média e alertar para o seu risco, criando assim um inimigo para o resto da vida e ter, ainda por cima, que confrontar os seus graus académicos com os que eu não possuo.

Qualquer uma das soluções me dará muito trabalho e canseira, a curto, médio ou longo prazo, quer seja confrontando-me com o autor, com a instituição ou com alunos. E eu não sei que fazer, honestamente.

Aceito sugestões!

By me

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