A
fotografia é uma ferramenta inventada para controlar o tempo.
Paramo-lo
nas fracções de segundo da exposição, capturamo-lo na matéria fotossensível,
cercamo-lo na tirania do enquadramento.
Como
disse alguém, “Um fotógrafo é um taxidermista do tempo”.
E,
como dizia um fabricante, “Para mais tarde recordar”.
Tal
como, e sempre que possível, um trabalho jornalístico vem acompanhado de
imagens: fotografia ou o seu sucedâneo, cinema ou vídeo.
A
fotografia faz-se para mostrar no futuro o presente que vivemos.
Nesta
minha série fotográfica a que chamo “Sapatos abandonados”, subverto esta
abordagem.
Não
é, nunca, o presente fotografado que quero mostrar. Que pouco importante é o
momento em que cada imagem é feita.
Aquilo
que fotografo e mostro não é o presente mas sim o passado. Aquilo que foram
todos e cada um dos sapatos que encontro. Que o que me importa é deduzir, a
partir daquilo que é, aquilo que foi.
Imaginar
quem os usou, de que modo, em que circunstâncias, quando e com quem… E, apenas
por aquilo que vejo p’lo visor, ou ainda antes disso, construir uma historia
(ou estória) dos seres humanos, com o que de bom e de mau têm.
Quando
fotografo os sapatos abandonados na rua não estou a fotografar aquele presente obturado
mas antes o passado não visível. E no lugar de congelar o presente para ser
usado no futuro, uso a câmara e o seu registo para viajar no passado.
Só
como exemplo, conseguem imaginar o orgulho de quem estreou este sapato ao
exibir estes contrastes coloridos?
E
se é certo que a beleza e a estética são convenções humanas, variáveis no
espaço e no tempo, tal como o tempo por si mesmo, então uma fotografia não é
nem bela nem horrenda.
É
a interpretação que dela fazemos, o estimular da nossa memória que ela produz,
que é belo ou horrendo.
Assim,
este sapato não nem bonito nem feio. É o que é e ponto final.
Serão
os vossos pensamentos que dele farão algo de que gostem ou não.
By me
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