Cruzou-se comigo
nas escadas de acesso ao cais do comboio. E atirou-me, enquanto eu descia a
caminho de um café que matasse o tempo, um “Dê-me um cigarro!”
Não dei. Não
gostei do tom de imposição. E ripostei-lhe com um “Faz favor, sim!?”
Quando voltei ao
cais, lá estava ela. Com mais dois amigos, da mesma classe etária: jovens
adolescentes. Brincadeiras próprias da idade, com corridas e perseguições,
intercaladas com jogos de amor entre o amigo e a amiga.
Apesar disso, não
perdiam oportunidade de fazer o que faziam todo o dia: tentar vender um “Borda
d’água” a algum passante ou, em alternativa, pedir uma moedinha. E, mesmo que
os não tivesse visto a “trabalhar” – melhor, “as”, que ele apenas supervisionava
a função – as suas conversas em romeno e o elas terem a mala atravessada a
tiracolo não dava azo a enganos.
A bordo da
carruagem que partilhámos, continuaram com o que faziam: o parzinho nos jogos
próprios, em que ele demonstrava a afirmação de virilidade com algumas agressões
versão soft, ela a pedir uma moeda a quem estava sentado.
Não devem fazer
grande negócio, que a jovialidade, brincadeira e boa disposição deles não se
coaduna com a eventual vontade de fazer uma doação ou negócio.
Calhou descermos
na mesma estação, ainda em Lisboa. Eu, que ía em busca de lugar onde escrever,
eles em fuga do revisor que se aproximava na composição.
Já na gare, acendi
eu um cigarro. E ela insistiu, desta feita corrigindo o erro: “Dê-me um
cigarro, faz favor.”
Não resisti!
Apesar da idade, o ela ter aprendido valia o cigarro e propus o negócio do
costume: em troca de uma fotografia.
A modéstia
sobreveio. Primeiro a negação, depois a inquirição (costumo dizer que gosto de
fotografar olhos bonitos), depois a lisonja e o amor-próprio venceram e
aceitou.
Mas, ainda assim,
creio que o grande surpreendido fui eu. Que, apesar de jovens, apesar de há dez
anos em Portugal - que perguntei - apesar de estarem a pedir aos incautos, o
sentido de negócio não ficou de parte. E, ao estender a mão para recolher o
cigarro, não se coibiu e disse: “Dois cigarros. São dois olhos!”
Não o fizemos dessa
forma, que tenho normas mais ou menos rígidas no quanto conseguem enrolar-me.
Mas que achei graça, lá isso achei.
E bem mais graça
quando ele, percebendo qual o meu ramo, me propôs um outro negócio: eu
fotografava os olhos dele e dava-lhe um euro.
Claro que nada
feito. Gosto de regatear uma fotografia, mas o mote dou-o eu.
Agora que estávamos
bem uns para os outros, lá isso estávamos.
Com sorte, talvez
que ela venha a ver esta imagem e que se convença, tal como lho disse depois de
feita, que ficariam muito mais bonitos se não estivessem estragados com
pintura.
Mas vá lá
convencer-se uma adolescente de tal coisa!
By me
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