sexta-feira, 5 de abril de 2013

Infelicidade




O prefixo “in” na língua portuguesa significa negação. “Impossível”, “incapaz”, “invertido”.
No entanto, negar algo não é afirmar o seu oposto. É, tão só, afirmar que a condição negada não sucede. E entre algo e o seu oposto existe a neutralidade, o valor zero.
Dizer que alguém é infeliz é apenas dizer que esse alguém não se encontra em estado de felicidade. Não implica que esse alguém chore o tempo todo, que se encontre em estado de desespero, que esteja em conflito consigo, com alguém ou com o mundo.

Vejo nos comboios gente infeliz. Gente que não gosta dos seus ocasionais companheiros de viagem. Dos seus cheiros, dos seus trajes, dos seus gestos, das suas poses. Gente que se deduz ter usado transporte privado tempo a mais e que lhe desagrada esta situação de partilha com o seu semelhante.
Esta infelicidade (e o termo é aqui usado no seu significado usual) será fruto dos condicionalismos sociais que nos afectam. Os transportes públicos são, sem sombra de dúvida, bem mais baratos que o uso de automóvel para transporte individual.
Mas a culpa desta “infelicidade” não pode ser atribuída em exclusivo ao momento económico que vivemos.
Este estado de infelicidade surgiu muito antes, ainda nas suas infâncias. Habituaram-nos a viver isolados dos demais, a aquilatar os seres humanos p’las nossas próprias bitolas, a desprezar aqueles que não têm posses ou fazem questão de não alardear bens ou posição. Os diferentes.
Estas pessoas serão sempre infelizes, com ou sem transportes públicos. Que não sabem adaptar o seu próprio nível de felicidade, o seu equilíbrio interior ao que são ou possuem.
Tão ou mais importante que a formação académica é a formação enquanto ser humano. E se não se souber, desde o berço, a aceitar a diferença - seja ela qual for e p’los motivos que forem – ser-se-á sempre infeliz.
Ou, se se preferir, estar-se-á sempre em estado inverso ao de felicidade.

By me 

1 comentário:

Anónimo disse...

Formação em oposição à IN-formação

não resisti!

Forte abraço, Jorge
António Samagaio