Para
cada problema, uma solução específica. Ou mais que uma, se formos engenhosos.
Esta
é uma solução para um problema que não temos.
Em
fotografando no exterior usamos o sol como fonte de luz. Maior ou menor
intensidade, maior ou menor difusão, mas é ele que alumia os assuntos que
fotografamos. Geralmente.
Mas
em interiores ele não chega, ou pelo menos, não chega com a quantidade e
qualidade que queremos. Geralmente.
Por
isso, e desde sempre, os fotógrafos procuraram formas de trazer para o interior
a quantidade de luz necessária ao seu ofício.
Uma
dessas formas – das primeiras – foi o velho flash de magnésio. Vemo-lo nos
filmes, que já não se usa. Aquela luz intensa, não tão instantânea quanto isso,
e, principalmente, muito fumarenta. Que resultava da queima rápida de magnésio
com um nico de pólvora. E, em interiores, depois de cada fotografia, havia que
abrir bem as janelas e criar uma valente corrente de ar, para dissipar os fumos
daí resultantes.
Esta
é uma forma de contornar o problema: um saco, feito a partir de um
guarda-chuva, e que se coloca por cima do local da combustão. Assim que se
extingue, fecha-se por baixo e vai-se com ele para o exterior, abrindo-o e
libertando a fumaça nele contida.
Talvez
seja um sistema complicado de usar, mas seria o melhor que existia na época. E
soube-o através de um livrinho comprado num simpatiquíssimo alfarrabista.
Recomenda-se a visita.
Da
simpatia, cada um poderá aquilatar aquando da sua ida lá. Da qualidade e eficiência
dos seus proprietários, posso dar um exemplo:
O
livro de onde tirei esta imagem intitula-se “Fotografa parte segunda”. Escrito
em Castelhano, data de 1952 e foi impresso na Argentina. Quando por ele
perguntei o preço, disse a simpática senhora: “Olhe que é o segundo volume. Não
tenho o primeiro.” Qualquer outro vendedor teria calado essa informação,
tratando de despachar este talvez mais que encalhado livrinho de bolso. Que a
grande maioria pouco dariam por ele, a menos que, como eu, saibam que os
antigos tinham sabedorias que as modernidades esquecem.
E
um dos exemplos dessa sabedoria consta naquilo que não está na imagem: “Bórax –
75gr; Ácido bórico – 60gr; Água – 1 lt”. Trata-se da fórmula que haveria de
executar para impregnar o tecido deste saco para o tornar ignífugo ou incombustível.
Pequenos detalhes ou sabedorias que hoje escapam à maioria.
Interessante
mesmo foi também o que sucedeu depois de sair desta excelsa loja com este
tesoiro no saco.
Sendo
que se tratava de um dia feriado, nem sequer estava à espera que este
alfarrabista estivesse aberto. Mas estava, ao invés de todo o resto do comércio
que não pastelarias ou restaurantes.
No
passeio preudo-fotográfico que dei, acabei por entrar num centro comercial, um
dos mais antigos da cidade e que foi uma referência, ainda que hoje preterido
por outros que têm a desvantagem de serem todos iguais.
Neste
existe, desde sempre, uma livraria. Mas como é um comércio em declínio –
infelizmente – já lhe conheci vários donos e nomes ao longo dos anos. E, desta
vez, nova mudança, desta feita uma sucursal de uma outra livraria bem
conhecida.
Enquanto
olhava de fora, aquilatando do que ali estava à venda, lá dentro apenas três
pessoas: dois potenciais clientes e uma empregada. E foi esta que fez toda a
diferença:
De
pé, atrás do balcão, estava embrenhadíssima na leitura de um livro. Livro que
marcou com todo o cuidado e pousou ao lado quando fez uma venda, e que a ele
regressou de seguida.
Ora
batatas! Uma “menina do shoping” a vender livros e a ler o que vende não é
normal. E não pude deixar de ir atrás do meu nariz comprido e meter conversa
com ela. Não me recordo do título ou autor, mas não esqueço o mais que ela me
disse:
“Sabe,
gosto de ler por inteiro pelo menos uma obra de cada autor que temos. Que,
assim, posso melhor aconselhar os clientes.”
Perfeito,
como já é raro de encontrar!
Falta
referir que o alfarrabista é a “Folio Exemplar”, ex-Ulmeiro de boa memória, na
Av. Do Uruguai, Lisboa, e que a livraria é a “Apolo 70”, no CC Fonte Nova,
também em Lisboa.
Concorrências?
Nada disso, que são produtos e clientes diferentes, excepto algum menos
convencional como eu mesmo.
By me
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