Os primeiros dois
grandes conflitos armados que foram acompanhados por fotógrafos aconteceram na
Crimeia e nos EUA. Ambas mais ou menos a meio do séc. XIX.
Em ambos os casos
os condicionalismos técnicos para a actividade dos fotógrafos eram semelhantes:
os primitivos equipamentos, a fracas sensibilidades dos materiais, a
necessidade de sensibilizar e processar quase de imediato… tudo isto impunha,
por exemplo, que os fotógrafos se deslocassem em carros próprios, arrastando
consigo as suas próprias câmaras escuras e laboratórios.
Mas as semelhanças
terminam aqui.
Das não muitas
imagens da época (como se imagina) as abordagens dos fotógrafos ao tema “guerra”
são tão diferentes que quase que se pode perguntar se o tema será mesmo.
É que, enquanto na
guerra civil americana um dos principais objectivos seria o mostrar o absurdo
de uma guerra fratricida, em que a destruição e morte são patentes na sua
grande maioria, já na Crimeia o principal objectivo seria o mostrar em como as
tropas britânicas, lá longe nos Balcãs, estariam bem e vitoriosas.
Uma olhada rápida,
mesmo que pela net, pelas imagens de então demonstra isso muito bem.
De então para cá,
todos os conflitos bélicos envolvendo as chamadas “sociedades ocidentais” foram
retratados pelos fotógrafos. E alguns fora deste universo.
Algumas dessas
reportagens de imagem foram feitas com pulso livre pelos fotógrafos, outras bem
limitadas ou condicionadas pelos beligerantes.
Mas nenhuma delas
foi “inocente” nos motivos que estiveram atrás de quem enviou ou propiciou que
acontecessem. Não há reportagens de guerra (ou do que quer que seja) isentas ou
inócuas. Nem então nem hoje.
Nós, o público que
no conforto da paz a elas temos acesso, temos também o dever de saber
interpretar o que nos chega, a obrigação de saber quem enviou gente e meios
para lá e com que motivo, com qual das partes estão alinhados. E, neste actual
mundo de informação, saber procurar o outro lado da história, saber o que se
conta e mostra para lá da terra de ninguém.
Que a morte será
sempre a morte, de um lado ou do outro da trincheira. As motivações é que
variam. E o que nos contam sobre elas também.
Na imagem, um carro
de reportagem fotográfica, durante a guerra da Crimeia, séc. XIX.
By me
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