No
meu trajecto para o trabalho, desço em Lisboa do comboio em que embarquei no
meu bairro suburbano e subo para um autocarro que me deixa à porta do trabalho.
Prático.
E
é tanto mais prático quanto a linha do autocarro começar aqui. Em regra, e em o
querendo, tenho garantido lugar sentado.
Mas
sendo que há uma feliz desfasagem entre a chegada do comboio e a partida do
autocarro, já conheço as rotinas dos motoristas.
Em
chegando, param antes do ponto de embarque e deixam sair os passageiros que
transportam. Fecham as portas e passam revista ao carro, suponho que para
verificar a sua condição e se alguém terá deixado algo esquecido.
Em
havendo tempo antes da partida seguinte, saem do carro e consomem-no numa pausa
privada. Alguns para um cigarro, discretamente a alguma distância.
A
poucos minutos da hora prevista, retomam o seu lugar, chegam o autocarro à
paragem e deixam entrar quem ali estiver para tal. Quinze/vinte pessoas,
talvez, àquela hora e naquela carreira.
E,
quando o relógio bate a hora, fecham as portas e seguem.
Mas
alguns há que têm um extra na sua rotina:
Olham
atentamente para o lado da estação de caminho de ferro, vendo se alguém se
estará a apressar para subir, correndo por entre os carros em trânsito ou
estacionados. E aguardam uns segundos, inconsequentes para quem está a bordo, mas
vitais para quem vem atrasado.
Pergunto
agora, com carradas de ironia: quem se lembra do rosto do motorista do último
autocarro em que viajou? Ou, elevando a ironia ao nível de Kafka, quem lhe sabe
o nome?
Para
todos esses motoristas que pensam nos outros o meu Obrigado com letra maiúscula.
E em nome de todos aqueles que, ofegantes, subiram na vossa viatura.
By me
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