Dizer
que o comboio parou é um absurdo.
Tal
como é um absurdo dizer que o meu relógio está atrasado.
Como
pode o comboio estar parado se a terra gira? Se o planeta orbita? Se a galáxia
se expande e gira?
E
o meu relógio, caramba!, está perfeitamente certo com algum ponto do globo. Não
forçosamente este, mas algum.
É
assim que eu, dentro de um comboio que aparenta estar parado mas o não está,
que pareço estar atrasado mas que sou pontual com qualquer ponto que talvez
desconheça, me encontro sempre em movimento no espaço e no tempo.
Será
este o motivo que me leva a tanto gostar de fotografia? Que tudo pára, espaço e
tempo, que me permite aquelas pausas de imobilidade e paz, à margem de tudo o
resto?
Que
quando nela mergulho, é apenas o espaço e o tempo da luz que me move. A tal
ponto que o comboio em que embarquei, faz mais de meio século, se imobiliza e o
relógio, esse, se sincroniza com qualquer outro, onde quer que esteja, não
importa fusos ou átomos.
É
a fotografia que me move, é ela que me imobiliza. Quanto ao resto, atrás de um
comboio virá, forçosamente, outro. E o tempo, esse, faço questão de ser eu a
pará-lo, relativizando tudo por um jogo de luz, cor e perspectiva.
By me
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