Acredito
que as regras podem ter excepções. E esta é uma delas.
Tanto
quanto me recordo, esta terá sido a única flor que levei para casa para
fotografar. Terá sido a única vez que, propositadamente, levei para casa um cadáver
para o meu prazer fotográfico.
Somos
omnívoros, o que significa que tanto comemos animais como vegetais. Trata-se de
uma necessidade mais que básica, que tem que ser satisfeita.
Mas
a satisfação da alma, que também é uma necessidade básica, tem limites na minha
cartilha. E um deles é não provocar mortes para fotografar. O meu prazer
intelectual não é, de forma alguma, maior que o respeito que tenho p’la vida.
Animal ou vegetal.
Por
isso, recuso-me a colher uma planta. Ou a comprar uma. A menos que venha
envasada, vivinha, e que eu mesmo tudo faça para lhe manter e prolongar a vida,
juntado essa sua necessidade ao meu prazer.
Trazer
flores, por bonitas que sejam, de um jardim, do campo ou da florista, mantê-las
à vista para meu deleite e ignorá-las depois da sua rápida morte… Não tenho o
direito de assim brincar coma vida de outros, mesmo que de uma planta.
Esta
foi uma excepção. Gosto de dizer, de mim p’ra mim, que ao tê-la fotografado e
usado a sua imagem (como agora), estou de algum modo a prolongar-lhe a vida,
mesmo que ficticiamente. Sofismas que mais não fazem que disfarçar o facto de
ter morto um ser vivo para meu prazer!
Mas,
e já que o fiz (mea culpa), p’lo menos que seja tão útil quanto o possível. E
aqui fica, um símbolo da data que hoje se comemora, reconhecido p’los nacionais
como tal, ainda que muitos não saibam, com rigor, o que se celebra. E ainda
bem, pois que essa “ignorância” é a consequência de não ter vivido o que
antecedeu a data em causa. E tudo o que então foi.
Hoje
desejo que haja motivos para que, muito em breve, se crie uma nova data
importante na história. Uma viragem bem mais material que a de ’74. Que os
protesto que hoje se ouvem, sólidos e bem mais que justificados, se baseiam em
questões bem mais materiais que o que justificou Abril. Não estamos em guerra,
não temos polícias políticas, não tememos p’la nossa segurança enquanto seres
pensantes e com opinião.
Mas
um pedido faço: em fazendo a viragem que desejamos e merecemos, em invertendo o
caminho que alguns candidatos a ditadores querem tomar, não façamos de um cadáver
o símbolo disso.
Por
muito belo e poético que possa ser, sempre será usar a morte de algo para
celebrar a vida. E, na minha cartilha, o meu prazer intelectual não é mais
importante que a vida de uma flor.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário