A
história tens uns seis anos.
Se
acontecesse hoje, não sei se teria um final tão tranquilo para alguns dos
intervenientes.
Estava
eu no Jardim da Estrela, na minha actividade habitual por lá: Photógrapho.
E
estava mais ou menos rodeado de gente: curiosos, pessoas que esperavam vez,
gente que fazia fila para receberem a beberagem que nesse dia se promovia por
ali… Bastante gente em redor.
A
dado passo constato que, num relvado próximo, acontecia fotografia. Um homem na
casa dos 50’s, razoavelmente equipado para tal, ia fotografando uma
moça/senhora, no início dos trinta, vestida de forma provocante e tirando
partido disso e que, com um cachorrinho, ia posando de pé, sentada e deitada na
relva. Achei piada, mas tinha mais com que me preocupar: as minhas próprias
fotografias.
Entre
duas delas, dou de novo uma olhada e reparo que a objectiva estava,
discretamente por entre as folhagens, assente em mim e no meu artefacto. Ora
subia, ora descia, ora abria, ora fechava, mas era para os meus lados que os
clicks aconteciam.
Não
me espantei ou incomodei. Afinal, tanto o meu artefacto como a minha actividade
não só estávamos num local público como éramos algo de invulgar. E já vou
ficando habituado a ser objecto de enquadramento nestes propósitos.
Passado
um pouco, no meio da minha azáfama, dou comigo encostado à moça/senhora.
Sorridente, com sotaque brasileiro, insinuante e colocando o cachorro entre
nós, o roço era evidente.
A
princípio não percebi. O cão lambeu-me o nariz – só o cão, entenda-se – e ela
foi dizendo umas piadas meio sem nexo mas fartando-se de rir com elas. Até que,
em virando o meu olhar, vejo o fotógrafo disparando insistentemente.
Horizontal, vertical, mais aberto, mais fechado, o obturador electrónico da DSLR
não parava de trabalhar.
Mantive
uma certa bonomia para com a moça (que o merecia), o cachorrinho (que de nada
entendia) e o fotógrafo (que olhava para mim dentro e fora do visor).
Ao
fim de um pedaço, lá entenderam que já chegava e afastaram-se. Sem uma palavra,
um sorriso, um olhar cúmplice ou mesmo um menear de cabeça. O trabalho estava
feito e pronto.
Aqui
saltou-me a tampa!
Pedindo
desculpas para uma pequena pausa a quem me rodeava e esperava vez, dirigi-me ao
portador da câmara fotográfica, segurei-lhe levemente no braço e afastei-o de
quem com ele estava, que o que lhe tinha para dizer não era para muitos
ouvidos. E ouviu!
Ouviu
que, ainda que mestres no mesmo ofício, o respeito recíproco não se perdia; Que
ainda que me não tivesse manifestado, um pedido prévio ou um agradecimento
posterior teria sido simpático; Que por muito discreto que ele pudesse ser, a
potente teleobjectiva dava nas vistas por entre as ramagens e que a encenação
da moça nada tinha de espontâneo; Que eu estava a sentir-me usado e abusado;
Que noutras circunstancias, com menos gente por ali e com menos trabalho
também, trataria de lhe confiscar a câmara, à força se tal tivesse que ser, até
à chegada das forças policiais que eu mesmo chamaria, para que as minhas
imagens fossem destruídas na sua presença; E que não confiasse em demasia na
alvura e comprimento das minhas barbas, que atrás delas estava quem o pudesse
pôr em prática.
Engoliu
em seco, atirou-me com um “obrigado” mais frio que o pólo Norte, pegou no braço
da moça e afastou-se. O canito, esse, não teve que correr, que estava nos
braços dela.
Por
mim, voltei à diversão colectiva e consentida que o meu “Oldfashion” permite e
propícia.
Não
sou pessoa de ler publicações “cor-de-rosa” ou do “jet-set”. Mas, e se por
acaso, vier a ver alguma imagem minha com aquela senhora e cão e sem o meu
consentimento expresso… Bem, para alguma coisa servirão advogados e tribunais!
Que
uma coisa é ser Photógrapho, outra é ser fotógrafo!
By me
Imagem by Rui Palha
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