Tem
cerca de quarenta anos e veste de uma forma colorida, desgarrada, excêntrica. É
preta e, no seu périplo diário pelos corredores do shopping, pára em cada
montra e porta.
Sorri
para quem está e quem passa. E canta!
Não
se percebe muito bem o que canta, nem a letra, nem a melodia. Mas canta e gosta
de o fazer. O seu sorriso feliz, para dentro e para fora, assim o mostra.
Os
passantes ocasionais estranham e sorriem, os lojistas riem de escárnio, os
seguranças olham-na como se estivesse em vias de furtar algo ou escarrar no
chão.
E
ela, tudo ignorando, continua a sorrir alegre e amavelmente para quem passa e
quem está, feliz não se sabe com quê.
Talvez
apenas porque canta.
E
depois vai-se, para sorrir e cantar noutras lojas e noutras ruas, cobertas ou
não de telhas e seguranças, de preconceitos e ostracismo.
Fica
o escárnio e a desconfiança. Porque é diferente. Porque canta e aparenta estar
feliz. Porque fazê-lo sem ser num palco ou coreto, sem estar numa camisa-de-forças,
é contra as regras e normativos.
Porque
não se pode sair da normalidade sem que logo se trate de reconduzir o
“prevaricador" ao bom caminho!
Se
aqueles que franzem o cenho ou fazem chacota também cantassem e sorrissem, se
formassem um grupo e, alegremente, saudassem quem passa com umas notas musicais
no lugar de pedirem notas de banco…
Tem
uma lâmpada fundida, dirão alguns!
Não!
Tem-nas
é todas acesas de dia porque lhe apetece estar de bem com a vida. E dar luz
mesmo quando não lho pedem!
Obrigado
por nos mostrar quão loucos somos em não aproveitarmos o que nos cerca e sorrirmos
com isso!
By me
1 comentário:
Aqui, uma história muito semelhante:
http://www.revistasamizdat.com/2013/03/o-apanhador-de-desperdicios.html
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