Este
é um dos condimentos que uso aqui em casa: estragão.
Costumo
comprá-los assim, em frascos e já secos. Também os há frescos, em raminhos, mas
dão bem mais trabalho de usar e conservar.
O
problema destas ervas é que são difíceis de encontrar à venda. As lojas que
costumo frequentar só os têm de quando em vez, muito de quando em vez. Por
isso, quando os encontro, compro três ou quatro frascos, que sou guloso p’lo
paladar que dão às carnes.
Hoje,
no supermercado cá do bairro, passei de novo na secção das especiarias. Que
nunca se sabe…
Não
havia nos escaparates. Mas estava uma funcionária a repor as existências, a
quem lhe perguntei se, por mero acaso, não teria disto ali nos caixotes. Eu
esperaria.
“Não
vendemos”, foi a resposta.
“Bem!”
disse-lhe. “Não vendem agora, mas já cá tenho comprado.”
“Nunca
vendemos.” Insistiu.
“Olhe
que comprei aqui uns três ou quatro frascos há, talvez, um ano.”
“Trabalho
aqui há mais que isso e nunca vendemos!” Rematou ela, peremptória.
Apeteceu-me
largar ali mesmo o cesto de compras que tinha comigo, ir de fugida até casa e
pegar o que ainda me resta: este. Regressar a toda a brida e, abordando-a,
esfregar-lho no nariz, dizendo:
“Olhe!
Veja lá se este código de barras consta da vossa base de dados ou sou eu que
ando alucinado de todo!”
Não
o fiz, claro. Mas vontade não me faltou.
Esta
história, que tem umas quatro horas de vida neste momento, recorda-me uma
outra, esta com uns anitos já:
Numa
grande superfície e na secção de fotografia, um jovem empregado fazia questão
de chamar de “lente” ao que sei chamar-se “objectiva”. E insistiu tanto comigo
que acabou por terminar a conversa com uma frase bombástica:
“É
lente, estúpido, que é assim que temos na nossa base de dados.” A esta distância,
já não asseguro se o termo que usou foi mesmo “estúpido” se foi antes “burro”.
Mas foi um dos dois.
Na
altura não me deixei ficar. Afastei-me, chamei o gerente da loja, contei-lhe o
episódio e afirmei-lhe a minha firme intenção de ali não comprar a câmara que
tinha em vista se, em regressando uns dias depois, fosse aquele empregado a
atender-me. Ou mesmo se o meu olhar pousasse na sua figura. Nunca mais vi
aquele empregadeco!
Faz-me
sair do sério quando resolvem teimar comigo sobre coisas que sei. Mas que sei
mesmo, até à raiz dos ossos, aquele saber indiscutível, absoluto, que me
permite apostar a vida por ele.
E
faz-me mais sair do sério quando esse teimar se baseia em conhecimentos colados
com cuspo, sem solidez, fruto da consulta de um qualquer ficheiro, da leitura
apressada de um qualquer livro p’ra totós ou páginas de web cuja credibilidade é
equivalente a uma qualquer história do Superhomem.
A
quantidade de coisas que não sei ou que mal sei encheria várias bibliotecas
enormes. Sou o primeiro a reconhecer as fronteiras e dimensões. Mas daquilo que
sei, caramba!, argumentem e demonstrem que estou errado. Não teimem!
E,
já agora: há perto de algum de vocês estragão à venda? Digam-me onde que vou lá.
By me
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