domingo, 28 de abril de 2013

Estragão




Este é um dos condimentos que uso aqui em casa: estragão.
Costumo comprá-los assim, em frascos e já secos. Também os há frescos, em raminhos, mas dão bem mais trabalho de usar e conservar.
O problema destas ervas é que são difíceis de encontrar à venda. As lojas que costumo frequentar só os têm de quando em vez, muito de quando em vez. Por isso, quando os encontro, compro três ou quatro frascos, que sou guloso p’lo paladar que dão às carnes.
Hoje, no supermercado cá do bairro, passei de novo na secção das especiarias. Que nunca se sabe…
Não havia nos escaparates. Mas estava uma funcionária a repor as existências, a quem lhe perguntei se, por mero acaso, não teria disto ali nos caixotes. Eu esperaria.
“Não vendemos”, foi a resposta.
“Bem!” disse-lhe. “Não vendem agora, mas já cá tenho comprado.”
“Nunca vendemos.” Insistiu.
“Olhe que comprei aqui uns três ou quatro frascos há, talvez, um ano.”
“Trabalho aqui há mais que isso e nunca vendemos!” Rematou ela, peremptória.

Apeteceu-me largar ali mesmo o cesto de compras que tinha comigo, ir de fugida até casa e pegar o que ainda me resta: este. Regressar a toda a brida e, abordando-a, esfregar-lho no nariz, dizendo:
“Olhe! Veja lá se este código de barras consta da vossa base de dados ou sou eu que ando alucinado de todo!”
Não o fiz, claro. Mas vontade não me faltou.
Esta história, que tem umas quatro horas de vida neste momento, recorda-me uma outra, esta com uns anitos já:
Numa grande superfície e na secção de fotografia, um jovem empregado fazia questão de chamar de “lente” ao que sei chamar-se “objectiva”. E insistiu tanto comigo que acabou por terminar a conversa com uma frase bombástica:
“É lente, estúpido, que é assim que temos na nossa base de dados.” A esta distância, já não asseguro se o termo que usou foi mesmo “estúpido” se foi antes “burro”. Mas foi um dos dois.
Na altura não me deixei ficar. Afastei-me, chamei o gerente da loja, contei-lhe o episódio e afirmei-lhe a minha firme intenção de ali não comprar a câmara que tinha em vista se, em regressando uns dias depois, fosse aquele empregado a atender-me. Ou mesmo se o meu olhar pousasse na sua figura. Nunca mais vi aquele empregadeco!

Faz-me sair do sério quando resolvem teimar comigo sobre coisas que sei. Mas que sei mesmo, até à raiz dos ossos, aquele saber indiscutível, absoluto, que me permite apostar a vida por ele.
E faz-me mais sair do sério quando esse teimar se baseia em conhecimentos colados com cuspo, sem solidez, fruto da consulta de um qualquer ficheiro, da leitura apressada de um qualquer livro p’ra totós ou páginas de web cuja credibilidade é equivalente a uma qualquer história do Superhomem.
A quantidade de coisas que não sei ou que mal sei encheria várias bibliotecas enormes. Sou o primeiro a reconhecer as fronteiras e dimensões. Mas daquilo que sei, caramba!, argumentem e demonstrem que estou errado. Não teimem!

E, já agora: há perto de algum de vocês estragão à venda? Digam-me onde que vou lá.

By me 

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