O
prefixo “in” na língua portuguesa significa negação. “Impossível”, “incapaz”, “invertido”.
No
entanto, negar algo não é afirmar o seu oposto. É, tão só, afirmar que a condição
negada não sucede. E entre algo e o seu oposto existe a neutralidade, o valor
zero.
Dizer
que alguém é infeliz é apenas dizer que esse alguém não se encontra em estado de
felicidade. Não implica que esse alguém chore o tempo todo, que se encontre em
estado de desespero, que esteja em conflito consigo, com alguém ou com o mundo.
Vejo
nos comboios gente infeliz. Gente que não gosta dos seus ocasionais
companheiros de viagem. Dos seus cheiros, dos seus trajes, dos seus gestos, das
suas poses. Gente que se deduz ter usado transporte privado tempo a mais e que
lhe desagrada esta situação de partilha com o seu semelhante.
Esta
infelicidade (e o termo é aqui usado no seu significado usual) será fruto dos
condicionalismos sociais que nos afectam. Os transportes públicos são, sem
sombra de dúvida, bem mais baratos que o uso de automóvel para transporte
individual.
Mas
a culpa desta “infelicidade” não pode ser atribuída em exclusivo ao momento
económico que vivemos.
Este
estado de infelicidade surgiu muito antes, ainda nas suas infâncias.
Habituaram-nos a viver isolados dos demais, a aquilatar os seres humanos p’las
nossas próprias bitolas, a desprezar aqueles que não têm posses ou fazem questão
de não alardear bens ou posição. Os diferentes.
Estas
pessoas serão sempre infelizes, com ou sem transportes públicos. Que não sabem
adaptar o seu próprio nível de felicidade, o seu equilíbrio interior ao que são
ou possuem.
Tão
ou mais importante que a formação académica é a formação enquanto ser humano. E
se não se souber, desde o berço, a aceitar a diferença - seja ela qual for e p’los
motivos que forem – ser-se-á sempre infeliz.
Ou,
se se preferir, estar-se-á sempre em estado inverso ao de felicidade.
By me
1 comentário:
Formação em oposição à IN-formação
não resisti!
Forte abraço, Jorge
António Samagaio
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