Dizem
que “Sorte é quando a preparação encontra a ocasião”, e deve ser verdade. Eu
nem sempre tenho sorte.
Entretido
que estava com outras coisas, decido num impulso quase súbito ir apanhar a
roupa que tinha pendurada a secar. Que corro o risco de amanhã estar ainda mais
molhada.
Conforme
vou retirando as camisas e o meu reduzido horizonte vai ficando visível,
apercebo-me que está aquela luz parda, chamada de lusco-fusco, em que já não é
dia mas a noite ainda não caiu de todo.
Ao
ficar com a última camisa na mão os automatismos suburbanos actuam e as luzes públicas
começam a acender-se.
É
um jogo de cor e luz fantástico, com temperaturas de cor loucas, algumas nem
temperaturas são, apenas riscas num espectro improvável.
E
deixei-me ficar ali, com um braço cheio de camisas, a outra mão cheia de molas
e a alma cheia de cor. Um instante quase mágico, num confronto amigável entre a
natureza e a humanidade. Tentando degustar da minha varanda e até ao último fotão
o que ali ia acontecendo.
Depois…
Depois
foi o atirar as molas para o cesto, o ir pôr as camisas de qualquer maneira lá
dentro, ir buscar a câmara de bolso que era a única pronta a usar e, apoiando-a
na balaustrada com ajuste de exposição a olho, fazer o registo impossível de um
momento já passado.
Foi
o melhor que consegui, uma muito pálida amostra do que havia visto.
Fica
uma promessa: nunca mais vou apanhar a roupa da janela sem levar a câmara
comigo.
By me
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