terça-feira, 9 de abril de 2013

Sorte




Dizem que “Sorte é quando a preparação encontra a ocasião”, e deve ser verdade. Eu nem sempre tenho sorte.
Entretido que estava com outras coisas, decido num impulso quase súbito ir apanhar a roupa que tinha pendurada a secar. Que corro o risco de amanhã estar ainda mais molhada.
Conforme vou retirando as camisas e o meu reduzido horizonte vai ficando visível, apercebo-me que está aquela luz parda, chamada de lusco-fusco, em que já não é dia mas a noite ainda não caiu de todo.
Ao ficar com a última camisa na mão os automatismos suburbanos actuam e as luzes públicas começam a acender-se.
É um jogo de cor e luz fantástico, com temperaturas de cor loucas, algumas nem temperaturas são, apenas riscas num espectro improvável.
E deixei-me ficar ali, com um braço cheio de camisas, a outra mão cheia de molas e a alma cheia de cor. Um instante quase mágico, num confronto amigável entre a natureza e a humanidade. Tentando degustar da minha varanda e até ao último fotão o que ali ia acontecendo.
Depois…
Depois foi o atirar as molas para o cesto, o ir pôr as camisas de qualquer maneira lá dentro, ir buscar a câmara de bolso que era a única pronta a usar e, apoiando-a na balaustrada com ajuste de exposição a olho, fazer o registo impossível de um momento já passado.
Foi o melhor que consegui, uma muito pálida amostra do que havia visto.
Fica uma promessa: nunca mais vou apanhar a roupa da janela sem levar a câmara comigo.

By me 

Sem comentários: