Eu
não gosto do formato de três por quatro da TV, nem do formato convencional do
cinema ou dos 24 por 36 mm da fotografia. E menos ainda o formato quadrado!
São
proporções artificiais, que em pouco ou nada correspondem àquilo que vemos.
E
se aquilo que vemos, do ponto de vista fisiológico, é redondo e num ângulo
muito estreito, da ordem de poucos graus, o nosso acesso visual ao mundo
baseia-se no varrimento que fazemos nele com os olhos. Para já não falar visão
periférica e tudo o que ela implica a nível dos instintos e da sobrevivência do
animal.
Mas
o varrimento visual que fazemos do mundo que nos cerca é essencialmente
horizontal. Aquilo que está ao nível da nossa cabeça.
Quer
seja para nos acautelarmos com perigos, quer seja para nos aproximarmos do que
nos interessa: Alimentação, relações sociais, objectos cobiçados.
O
nosso varrimento na vertical é pouco expressivo: olhamos para baixo para
detectarmos obstáculos no caminho e para cima para ver se chove ou se existe
algum pássaro pouco simpático. Nada mais.
Na
representação gráfica do que nos cerca, fazemos o mesmo. A menos que estejamos
limitados por um formato do suporte (um painel para pintar ou uma folha de
jornal para ilustrar) a esmagadora maioria das imagens são feitas na horizontal.
Porque se aproximam do que vemos.
Claro
que há outro tipo de limitações, como sejam o assunto a representar. Se ele for
vertical (uma figura humana ou uma árvore) se o quisermos fazer tão grande
quanto possível e excluirmos o que o circunda ao máximo, pois o normal é
recorrer ao formato vertical.
Mas
estas são excepções. Que a maioria das imagens que fazemos são horizontais.
É
por isto que desde cedo se começaram com representações fotográficas bem mais
largas que altas: a fotografia panorâmica e as respectivas câmaras. No cinema,
surgiu o Cinemascope, o Widescreen e outros, sempre com a ideia de representar
aquilo que era visto como era visto e não agarrados a uma formato pouco menos
que quadrado.
Mas
isto é complicado, do ponto de vista técnico: objectivas anamórficas para a
captação e reprodução, objectivas rotativas e película encurvada para a
fotografia… Difícil de manobrar pelo amador, caro de reproduzir e comercializar
para a indústria. No caso da televisão mais complicado se torna, com a alteração
dos sistema de captação e tratamento, por um lado e de recepção doméstica por
outro.
A
fotografia digital veio introduzir alterações e facilitar a vida dos
fotógrafos.
Não
apenas as próprias câmaras permitem captar imagens preparadas para serem “coladas”
posteriormente como ainda os sistemas de edição de imagem, alguns muito
simples, permitem fazê-lo sem grandes complicações.
No
caso da TV, com o advento dos sistemas digitais e da alta resolução, em breve o
formato tipo será o 16 por 9, bem mais próximo da nossa realidade visual.
Pela
parte que me toca, em fotografia, não uso os sistemas panorâmicos existentes.
Usando
as ópticas e os ângulos convencionais e disponíveis no mercado, aquando da
tomada de vista faço um enquadramento mental daquilo que o visor me mostra.
Mais tarde, dantes no ampliador do laboratório agora no computador, reproduzo
essa imagem que compus mentalmente. Mais detalhe, menos detalhe.
Se
eu encontro satisfação no resultado final ou não, isso já é outra coisa.
Condicionados
que estamos pela cultura visual do séc. XX, no cinema, na TV, nos formatos
apresentados pelos laboratórios fotográficos industriais, pelas publicações
periódicas, deixamo-nos levar na onda.
Mas
a experimentação, pessoal ou tertúlica, permite-nos partir para outros voos,
para outras formas de expressão pessoal. Nalguns casos chamam a isso de arte.
Na esmagadora maioria restante, de quebra de regras ou extravagâncias.
Seja
como for, aqueles que fazem da representação bi-dimensional da luz a sua
paixão, devem passar por isso. Quanto mais não seja para poderem dizer que não
gostam disso!
By me
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