Já
não tenho a energia que tinha. Não sou foto-reporter. Não é possível estar em
todos os lados ao mesmo tempo.
Estas
são três verdades, difíceis de contestar. E que, a cada dia que passa, mais eu
as sei.
Por
isso mesmo, a cada manifestação que vou indo, a minha opção enquanto caçador de
troféus fotográficos é cada vez menos fazer o de fazer o tal retrato do
acontecimento. Levei tempo (anos) a perceber que essa seria a atitude correcta,
mas finalmente encontrei alguma paz comigo mesmo e com o que faço.
É
assim que a minha abordagem a estes eventos passou a ser a que quem está lá, de
quem faz ouvir a sua voz e protesto ou aplauso.
Se
as câmaras vão comigo? Claro que vão. Nem eu me sentiria bem se as não levasse.
Mas os registos que trago são os de quem esteve no meio daquilo e não os de
quem esteve a ver aquilo. Que bem mais importante que os registos é a
manifestação de todos nós, eu mesmo incluído.
Sobram,
no meio de tudo isto (quiçá desculpas esfarrapadas para o fraco que trago)
algumas opções ou experiências estéticas de luz ou perspectiva ou o aproveitar
a maré de gente para as situações realmente incomuns.
E
um dos motivos que me deixa realmente tranquilo no que respeita a não fazer a
tal cobertura do acontecimento é a certeza de que, em havendo tantas câmaras no
local, espelhadas por tantos lados e com tantas visões a usá-las, o tal registo
é colectivo. A memória física e visual da história que vivemos é a de uns
milhares de câmaras que estão no local.
Terão
os historiadores, daqui por uns cinquenta anos, muito trabalho para recolher e
estudar tanto material disperso. Mas terão a vantagem de terem acesso àquilo
que o povo viveu e sentiu e não apenas ao que alguns poucos (bem ou mal) registaram.
E
o exemplo acabado disto são as imagens de Abril de ’74. O uso da fotografia era
restrito a pouco mais que uma elite que, muito entusiasta, ou com dinheiro ou
porque profissional, podiam dispor de equipamento e consumíveis. Sobram, 39
anos depois, uma valente mão-cheia de imagens, algumas icónicas, mas restritas à
visão dos fotógrafos existentes.
Muitos
de nós não estaremos cá, daqui por 40 anos, para saber o que sobrará dos
registos de agora. Mas terei muita curiosidade, se por cá eu estiver e lúcido, de
ver o que o tempo se encarregará de conservar e filtrar.
Esta
questão do “registo para memória futura” é, do meu ponto de vista, uma das
principais “obrigações” de quem possui uma câmara fotográfica, seja qual for o
seu nível qualitativo. Isso e o garantir que as imagens sobrevivem nos arquivos
digitais, a salvo de excessos de selecção e economia de espaço.
By me
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