Este
pedaço de rua faz parte do meu trajecto diário no ir de casa p’ro trabalho e
vice-versa.
A
descer ainda fresco, a subir no fim da jornada. Coisas.
É
neste trajecto que encontro alguns dos sapatos que vou fotografando, bem como
outras invulgaridades, que só o são para quem não vai observando o que o cerca.
Esta
montra já foi uma loja, talvez mais, já não sei de que negócios. De há uns
tempos valentes a esta parte é um centro comunitário, aberto a todos mas com
principal incidência a islâmicos, com apoio judiciário, aprendizagem de português,
aprendizagem de língua árabe, apoios profissional e de emprego… um pouco de
tudo p’ra quem veio p’ra cá à procura de uma vida melhor.
E,
de manhã, é hábito ver um ou mais sacos de plástico, bem atados como se de lixo
se tratasse, à sua porta. Ainda antes de ela se abrir.
Não
se trata de lixo, felizmente.
Espreitando
através do fino invólucro, o normal é encontrar roupas. Aparentemente lavadas e
usáveis. Tal como sapatos. E enlatados. E sacos de arroz. E garrafas de óleo alimentar.
E leite. E… já lhe perdi a conta, à lista.
Gente
há que sabe que neste espaço se junta outra gente em situação de grande aflição:
cultural e material.
E,
no anonimato da noite, sem gabarolice ou esperar que lhe estiquem a mão, aqui
vem deixar a sua contribuição.
Igualmente
sintomático, é nunca ter visto ninguém a revolver os sacos, ou mesmo a
afastar-se com um deles na mão.
Note-se
que se trata de um bairro suburbano, com uma quota-parte de desemprego bem
maior que a grande cidade, com representantes de todos os continentes, cores,
culturas e religiões.
Mas,
apesar de todos os rumores e suspeitas, os sacos existem. E ficam!
Como
diz alguém que conheço e estimo:
“Viva
quem faz!”
By me
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