Eu
sei que tenho um nariz comprido, um olhar meio indiscreto e uma mente
imaginativa. Mas também sou medianamente tímido, o que me tem impedido de fazer
alguns retratos que até me teriam dado prazer.
Não
foi o caso.
Vinha
eu entretido no comboio, de regresso a casa, ao fim da tarde. Havia um texto
que há dias me andava a bailar na cabeça e, quando embarquei, rapei do portátil
e ataquei-o.
Na
estação seguinte a composição encheu mesmo. A meu lado sentou-se uma mocinha
que apenas p’lo rabo do olho me apercebi ser loira, esguia e vestida de branco.
Eu ia bem entretido e não me apercebi de mais.
Mas
senti-a a desembrulhar algo e abrir uma embalagem e a curiosidade venceu:
desviei os olhos do ecrã e prestei um nico de atenção ao que acontecia.
E
vi o que desembrulhava: esta boneca, loira, vestida de branco, esguia e
amarrada a um poste ou semelhante.
Sorri
p’ra dentro e não resisti à verbalização de um pensamento: “É um auto-retrato?”
Riu-se
ela, meio por ter sido interpelada, meio p’lo conteúdo, e comentou que se tratava
de uma figura de uma banda desenhada japonesa. E mostrou-ma.
Não
tive dúvidas, numa inspecção atenta: era mesmo uma representação da mocinha,
aceitasse-o ela ou não. E avancei:
“Perdoe-me
a ousadia, mas… será que posso fazer uma fotografia dela e de si?”
Foi
isto que consegui fazer, com a pouca luz existente, sentados lado a lado e com
um menos que mínimo controlo de foco.
Feito
o “troféu”, ainda houve tempo p’ra uns dedos de conversa, acabar eu o texto e
tratar uma fotografia que publiquei, e ficar a saber que estuda artes, que é fã
de BD, que gostaria de disso fazer carreira. E o seu nome, que mantenho p’ra
mim.
Noutras
circunstâncias de espaço, luz e tempo, e teria ficado com os olhos bem em evidência,
que até que mereciam. Quedei-me, desta feita, por um retrato e o seu “fantasma”.
Não
o temos todos?
By me
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