Saio
do comboio para transbordo num autocarro.
No
entretanto, constato que duas mocinhas e um mocinho andam ás voltas com uma câmara
de vídeo, um tripé e um micro, para uma situação clássica de operador,
jornalista e entrevistado. Ou equivalente.
Olhando
para as idades, para o equipamento, para a forma como lidavam com ele e como
tinham no chão os respectivos sacos e mochilas, não tive qualquer dúvida: era
um exercício prático de aprendizagem. E deduzi onde estariam a estudar.
Fiquei
de parte a vê-los fazer. De algum modo, ver aquilo recordava-me, com saudade,
os tempos em que eu mesmo orientava estes exercícios, quer presencialmente quer
à posteriori. E fui sorrindo das dificuldades e da forma como as iam
resolvendo. Mais ou menos bem.
Até
que ouvi uma recomendação de uma para a outra que me caiu mal. Não fazia
sentido algum. Mais: era asneira da grossa, ainda que nada ficasse em perigo
que não o resultado do trabalho. E não me contive.
Abelhudo
que sou, fui meter o nariz!
Identifiquei-me
com o ofício e sugeri a alteração ao que se preparavam para fazer,
justificando. Ficaram a olhar para mim com cara de espanto. De facto, nunca
tinham ouvido falar naquilo.
Rimo-nos
e puseram-no em prática, constatando os resultados como os certos. E
afastei-me, dando-lhes o espaço de que necessitavam.
Novamente
os vi a asneirarem. Da grossa e básica. E, se já tinha começado, continuei.
Expliquei-lhes o erro, as consequências posteriores e como o evitar. De novo
ficaram a olhar para mim, como se lhes estivesse a explicar a origem do
universo. Completa novidade para eles. Fui mais longe e acrescentei mais uma ou
duas dicas de como corrigir o que estavam a fazer. Coisas simples, mais que básicas.
Mas que foram recebidas, uma vez mais, com total surpresa: nunca disso tinham
ouvido ou sequer pensado.
Zarpei,
rindo-me e desejando-lhes boa-sorte. Afinal, não podia chegar atrasado ao
trabalho para que me pagam.
Mas,
por dentro não ia a rir, bem pelo contrário!
Nada
do que lhes havia dito era extraordinário. Bem básico, por sinal. Eles
estudavam num curso superior, em que estes conhecimentos ou competências
deveriam estar mais que sabidos em fins de Maio de um primeiro ano que fosse.
Tanto no que toca a captação de per si como da edição posterior e de como
acautelar as complicações ai surgidas devido a más captações.
Conceitos
mais que básicos que nenhum aluno meu, em escola onde eu tivesse ou venha a leccionar,
nesta altura do curso poderia ignorar. Impossível!
E
fico furioso por estes jovens estarem assim a gastar dinheiro e tempo preciosos
em formações incompletas e ineficazes. Com resultados que tenho vindo a
constatar quando ingressam no mundo real do trabalho com as carências mais que
gritantes.
De
tudo isto, o que agrava a coisa é ser recorrente constatar esta falhas em
jovens daquela instituição. Que tenho vindo a encontrar p’la cidade, nesta ou
naquela situação pública.
Aquilo
que não sei é se o problema está no ou nos professores que possuem se nos currículos
das respectivas cadeiras.
Em
qualquer dos casos, uma coisa eu garanto: se tivesse eu no papel de eventual
empregador e se me surgisse gente a fazer os disparates e erros que tenho visto
nestes e noutros jovens saídos destes cursos de vão de escada pagos em bons
euros, ficariam de fora garantidamente.
Nestas
últimas dezenas de anos tem-se defendido que a formação é vital para o
desenvolvimento da sociedade. E, na sequência disso, surgiram montões de
escolas que prometem formação. Intermédia ou superior.
Mas
falta a fiscalização e real certificação da competência destas instituições. No
seu início e enquanto estiverem no activo.
Que
o pior roubo que podemos fazer é o desperdício de tempo!
By me
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