sábado, 25 de maio de 2013

Equilibrios




Creio que já por aqui falei de uma empena favorita.
Fica a meio caminho entre a Av. da República e o Jardim do Arco do Cego, em Lisboa.
Gosto dessa empena porque, impoluta de janelas, cartazes e afins, nela se projectam as sombras se um prédio contíguo, ao fim do dia, com o sol baixinho, baixinho.
Hoje, em passando aqui a caminho de um restaurante mesmo em frente onde me sinto como que em casa (o Super Chefe, passe-se a publicidade), constato que cheguei um pouco tarde. A hora de ver e fotografar esses graffitys efémeros havia passado. Sobrava uma parede limpa, apenas iluminada pelo rosa forte do final do dia. Bonito e agradável, mas pouco sugestivo em termos de imagem
Eis que olho um pouco à direita e vejo esta outra empena. Dois prédios ao lado. E nela projectada a sombra que já conheço mas invertida, naturalmente. E estranhei a sério.
Que diabo, aquela sombra, e respectiva origem de luz não correspondia, em nada, à posição conhecida do sol. 180º desfasado! Nada batia certo!
Até que, olhando com mais atenção, me apercebi do fenómeno: a luz provinha da parede que costumo fotografar. Agora, liberta de sombras, provoca-as, reflectindo a luz que recebe e dando origem a estas sombras, suaves e discretas, quase que como não existindo.
Foi um pedacinho apenas, menos que cinco minutos. O tempo para me aperceber, gostar do que via e rapar da câmara de bolso para o registo. Este.
E deixou de ser visível. A luz mudou de eixo e intensidade e as sombras foram para onde costumam ir quando as deixamos de ver.

Sabendo que o universo se encontra em permanente desequilíbrio controlado, e que os deuses têm um sentido de humor e justiça para além do que conhecemos, acredito que protelaram o ocaso o mais que puderam, à espera da minha passagem. Em compensação de um super entediante jornada de trabalho.
Espero ter-lhes feito honra no privilégio de o ter visto.

By me

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