É esta fotografia
importante? Provavelmente não!
É muito provável que
poucos, dos milhares que passam diariamente na estação do Oriente, em Lisboa,
se tenham apercebido que os cinzeiros/papeleiras foram recondicionados. Pintados
no branco original, ainda sem mazelas de grafitys ou uso, quase que parecem saídos
da fábrica.
Mas, convenhamos:
quem presta atenção a estes detalhes do quotidiano? Quem se preocupa em ver,
mais que olhar, aquilo que lhe está em frente do nariz todos os dias?
Poucos, diria eu.
Menos ainda terão a tentação de fazer o registo de coisa tão banal. Fotográfico
ou outro.
Que o que fica
bem, o que enche o olho, o que mostra a perícia ou sentido estético é sempre o
que está longe, o que é exótico, aquilo a que os outros não têm acesso.
A fotografia é,
para uma grande maioria dos portadores de câmara fotográfica, uma de três
coisas:
- Consequência de
um acto de cobiça. Não podemos ter aquele rosto, aquele monumento, aquele pôr-do-sol,
mas podemos ficar com o seu ícone, sob a forma de dígitos ou de cores esparramadas
numa folha de papel;
- Demonstração
perante terceiros de como foi bom estar ali, de como aquelas férias, ou festas,
ou o que quer que seja o tornou especial;
- Demonstração
perante terceiros de como se é perito no domínio da arte fotográfica, de como
os mistérios da estética e da luz nos são familiares, de como somos melhores
que os outros.
Dificilmente
qualquer um destes factores acontece ao pé da porta, ao fundo na rua ou a propósito
de um caixote de lixo para o qual ninguém olha. Muito dificilmente.
É esta fotografia
importante? Provavelmente não!
By me
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