quarta-feira, 22 de maio de 2013

O telemovel




Tem vinte e poucos anos e até gosto dela.
Do pouco que dela sei, consegue viver num limbo entre as convenções sociais, parece-me, lhe serão mais ou menos impostas pela sociedade e família, e as opções sociais que ela mesmo tomou, com decisões e opiniões não muito consentâneas com a geração anterior. Pensa e opina p’la sua própria cabeça, algo muito bom em qualquer época, mas raro nos tempos que correm.
Mas, claro, é filha dos tempos modernos.
Por isso mesmo entristeceu-me quando, um destes dias e em vendo-me usar o meu telemóvel para aceder a uma mensagem na web, me perguntou:
“Olha lá! Quando é que arranjas um telemóvel melhor? Tu até usas isso com frequência…”
Confesso que fiquei triste.
Que ela, com o seu talvez quarto de século, não entendeu ou aprendeu que não há que seguir as modas tecnológicas, impostas por fabricantes ou gente cujo objectivo é dizer e impor aos outros a suas própria forma de viver. Que os objectos não se descartam ou substituem apenas porque já têm não sei quantos anos e há mais moderno no mercado. Que não adianta, excepto para alimentar os abutres do mercado, jogar fora algo funcional e satisfatório só porque há algo de novo e diferente. Que muitos dos gadgets da comunicação vêm com montões de funções, que pagamos, e que de nada nos servem. Ou, pior ainda, nos tornam em escravos deles, levando-nos a pautar a nossa vida p’las pautas dos outros, no lugar das nossas.
No meio de tudo isto, o que mais me entristece é que a sua geração está a aplicar a pessoas o mesmo que ela aplica aos dispositivos electrónicos: Os novos é que importam e os velhos são descartáveis porque inúteis.

By me 

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