Ainda
faltava um pedaço para a fronteira formal do fim de dia. E faltavam bem dez
minutos para o comboio que me haveria de levar de volta a casa.
Cá
fora a aragem estava no limiar do fresco. Mas só cá fora e em alguns lugares,
que quanto ao resto, a temperatura estava amena. A ponto de ter o casaco preguiçosamente
pendurado no saco e ter ficado em colete e mangas de camisa no interior da
estação. Estava-se bem.
Este
“estar-se bem” era bem patente nelas. Duas mocinhas, aí p’los vinte anos, com
trajes leves, descontraídos e menos que pouco formais (rebeldes mesmo, dir-se-ia)
estavam numa amena e divertida conversa, bem no meio do átrio. Em pleno contraste
com os demais, sorumbáticos, uniformes nas suas roupas cinzentas,
conformadamente à espera do comboio que viesse conduzi-los ao descanso merecido
depois de uma jornada de trabalho. Elas eram a tónica dissonante naquela estação
e não poderiam deixar de ser notadas.
Na
sua diversão, uma delas dá um empurrão amigável na outra e esta protesta: “Não
me empurres! Não posso pisar o azul!” Sorri!
Sorri
do estranho da frase na idade e sorri dos esforços que de imediato fez para
conseguir colocar os seus dois pés dentro de uma rodela semelhante a esta.
A
outra alinhou na brincadeira e passou para um rectângulo da mesma cor e
materiais, logo ao lado. E assim estiveram, continuando a conversa e tentando
manter posições e decisões.
Estive
vai-não-vai para lhes perguntar se poderia alinhar na brincadeira e também eu não
poder pisar o azul. Mas desisti.
Que
aquela brincadeira não era minha, se bem que todos nós por ela tenhamos
passado. Que um cota, àquela hora e local, meter-se com duas jovens seria mal
interpretado, p’la certa; Que eu nunca me atreveria a pisar, de propósito um
coração tão esmeradamente feito.
Ficaram
elas nas suas conversas e fiquei eu com uma fotografia (mais uma) deste bonito
trabalho de um calceteiro, deixado numa estação de caminho-de-ferro, e que aos
magotes lhe passam por cima sem que o vejam.
Que,
nos tempos que correm, ninguém olha onde põe os pés, com a velocidade que nos
querem imprimir.
Os
dez minutos passaram e todos subimos e embarcámos.
By me
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