Passados
tantos anos a lidar com fotografia, é certo ter uma boa mão-cheia de imagens
que quero manter em privado.
São
fotografias íntimas. Algumas da intimidade do corpo, algumas da intimidade da
mente, algumas da intimidade das relações humanas, algumas da intimidade das
vivências. São fotografias íntimas que devem ser preservadas como privadas e
não caírem no domínio público.
Até
há alguns anos, fazer fotografias íntimas podia ser uma dor de cabeça. O
processamento fotoquímico (revelação, positivação, ampliação) implicava o
recurso a laboratórios onde estranhos lidavam com as imagens. A menos, claro,
que tivéssemos o nosso próprio laboratório, o que nem sempre acontecia. E o ter
fotografias íntimas nas mãos de estranhos, mesmo que profissionais com ética
irrepreensível, era algo que deixava um certo nervosismo a quem fotografava e a
quem era fotografado.
“Será
que não vai haver cópias destas imagens em mãos erradas?”, era um pensamento
recorrente.
Nos
tempos que correm, este receio é ridículo.
O
laboratório pessoal, vulgo “computador”, faz com que as fotografias íntimas,
sejam de que género forem, se mantenham na esfera privada de quem as fez ou
deixou fazer. Feitas com câmara digital, processadas em casa e guardadas num
disco rígido ou óptico, é garantido que não passam por mãos ou olhos errados,
mantendo a privacidade que se quer.
Desde
que, muito naturalmente, se as não coloquem na web. Não importa se esse colocar
é enviar por e-mail ou colocar num arquivo “privado” na nuvem. Estão sempre, e
por “sempre” entenda-se “realmente sempre” acessíveis a olhos que não
conhecemos e a acções que podemos não querer.
Os
servidores de e-mail não são invioláveis, nem os sistemas de arquivo on-line.
Como vimos recentemente, há sempre quem consiga quebrar as barreiras de
segurança e chegar onde não é suposto chegar. E há sempre decisões judiciais
que podem, legalmente, quebrar essas seguranças. Mesmo que por outros motivos
perfeitamente legítimos, essas fotografias íntimas e legítimas podem cair em
mãos que não deveriam ter acesso a elas.
Donde,
virem agora algumas “celebridades” queixarem-se que algumas fotografias íntimas
suas estão agora no domínio público é um verdadeiro disparate. Deixaram de ser
privadas no exacto momento em que foram colocadas num qualquer servidor de
dados que não podem controlar. Mesmo que pertençam a um qualquer departamento
governamental de uma qualquer super-potência.
A
privacidade de fotografias íntimas (da intimidade do corpo, da intimidade da
mente, da intimidade das relações humanas, da intimidade das vivências) só pode
ser garantida a 99% se ficarem longe das redes e nunca estiverem, em
circunstância alguma, em equipamentos geridos por estranhos. Mesmo que geridos
por gente com altos conceitos éticos e práticas equivalentes.
O
1% de incerteza prende-se com o nosso próprio equipamento. É difícil de
garantir que o nosso próprio computador não é objecto de intrusão e, muito mais
frequentemente, quando o levamos a uma oficina de informática ou a um amigo
“para dar um jeito” essas fotografias íntimas ficam de imediato fora de
controlo.
A
única forma de ter a certeza que essas fotografias íntimas, sejam de que cariz
sejam, fiquem dentro da privacidade que queremos, é tê-las guardadas em
suportes sempre afastados das redes e que nunca saiam da nossa esfera de
influência. De preferência em discos externos que só estão ligados a um
computador sob a nossa vigilância. Ou em suportes ópticos (CDs ou DVDs). Tanto
as fotografias tratadas como os originais.
Resta
falar de uma outra falha na privacidade das fotografias íntimas, sejam de que
cariz forem: as feitas com ou guardadas em telemóveis ou equipamentos
semelhantes. Que a quantidade destes aparelhos que se perdem ou são roubados
por semana é incontável. Ter neles guardadas fotografias que não queremos que
caiam no domínio público é o mesmo que sair de casa e deixar a porta
escancarada.
A
este propósito, recordo-me daquela estorieta:
“-
Sabes guardar um segredo?”
“-
Sei, claro.”
“-
………..”
“-
Então não o contas?”
“-
Não. Eu também sei guardar um segredo.”
As
auto-estradas da informação não são, garantidamente, o melhor lugar para
guardar segredos.
(Nota
extra: A imagem não é o que estão a pensar mas tão só dois joelhos encostados.)
By me
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