quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Telhados



Convém, de vez em quando, deixar de parte as emoções e recorrer à lógica para analisar os factos. Mesmo quando se trata de gente de quem não gostamos. Ou, principalmente, quando se trata de gente de quem não gostamos.
No caso concreto, a questão da Tecnoforma e de Passos Coelho.
Uma denúncia anónima acusa-o de ter recebido honorários quando estava em regime de exclusividade no Parlamento.
Bem! Ou é verdade ou não é verdade!
De acordo com os documentos fornecidos pelo parlamento, PPC requereu o pagamento posterior por estar nessa condição de exclusividade. Declarou-o sob sua honra.
Também de acordo com esses documentos, na sua declaração de rendimentos ao fisco nada consta desses recebimentos. Atesta-o quem os verificou na altura.
Portanto, e formalmente, não recebeu esses valores. Avultados, diga-se de passagem.
Acontece que, e perante as câmaras das televisões, PPC disse não se recordar do que se passou há tanto tempo.
Acontece que não é credível que tais valores se esqueçam assim, mesmo passados mais de dez anos. A acusação, anónima, refere montantes superiores ao que então PPC auferia enquanto deputado. Ninguém esquece tais montantes.
Donde, se PPC não recebeu, deveria afirmá-lo publicamente, atestando a sua inocência com as declarações de rendimentos, estratos bancários, etc. Deveria negar peremptoriamente tal acusação.
Mas preferiu dizer que não se recorda.
Donde, é legítimo deduzir que tal olvido esconde o facto de ter, efectivamente, recebido tais valores da tal empresa.
O que nos conduz a uma tripla irregularidade.
Por um lado, recebeu do parlamento quantias indevidas.
Por outro, atestou, por sua honra, factos falsos.
Por fim, ocultou rendimentos do fisco.

Veio a Justiça afirmar que não pode investigar esta situação, visto que prescreveu.
Se a inocência de PPC for real, seria legítimo ver a sua indignação perante tal acusação. Eventualmente torpe.
Mas apenas o ouvimos falar em esquecer passado tanto tempo.
Talvez que, efectivamente, não seja fácil provar a sua inocência. Aliás, neste país onde se supõe que o direito vigora, é à acusação que se requer que se prove o que afirma.
Mas como, e tal como a mulher de César que para além de ser séria haveria que parecer ser séria, faria sentido que tal acusação, a ser infundada, fosse desmentida com vigor.
E não está a ser.

Recorda-me este caso alguns outros: um exame feita ao fim-de-semana, uns créditos universitários estranhos, um centro comercial polémico, uns gravadores subtraídos, uma avioneta caída…
Casos que redundam em comissões repetidas, inquéritos inconclusivos, afastamentos discretos, arquivamentos judiciais, credibilidades postas em causa…

Estou mesmo já cansado de ver tantas telhas partidas mas de o raio do prédio não ruir de vez.

By me 

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