Convém,
de vez em quando, deixar de parte as emoções e recorrer à lógica para analisar
os factos. Mesmo quando se trata de gente de quem não gostamos. Ou,
principalmente, quando se trata de gente de quem não gostamos.
No
caso concreto, a questão da Tecnoforma e de Passos Coelho.
Uma
denúncia anónima acusa-o de ter recebido honorários quando estava em regime de
exclusividade no Parlamento.
Bem!
Ou é verdade ou não é verdade!
De
acordo com os documentos fornecidos pelo parlamento, PPC requereu o pagamento posterior
por estar nessa condição de exclusividade. Declarou-o sob sua honra.
Também
de acordo com esses documentos, na sua declaração de rendimentos ao fisco nada
consta desses recebimentos. Atesta-o quem os verificou na altura.
Portanto,
e formalmente, não recebeu esses valores. Avultados, diga-se de passagem.
Acontece
que, e perante as câmaras das televisões, PPC disse não se recordar do que se
passou há tanto tempo.
Acontece
que não é credível que tais valores se esqueçam assim, mesmo passados mais de
dez anos. A acusação, anónima, refere montantes superiores ao que então PPC
auferia enquanto deputado. Ninguém esquece tais montantes.
Donde,
se PPC não recebeu, deveria afirmá-lo publicamente, atestando a sua inocência
com as declarações de rendimentos, estratos bancários, etc. Deveria negar peremptoriamente
tal acusação.
Mas
preferiu dizer que não se recorda.
Donde,
é legítimo deduzir que tal olvido esconde o facto de ter, efectivamente,
recebido tais valores da tal empresa.
O
que nos conduz a uma tripla irregularidade.
Por
um lado, recebeu do parlamento quantias indevidas.
Por
outro, atestou, por sua honra, factos falsos.
Por
fim, ocultou rendimentos do fisco.
Veio
a Justiça afirmar que não pode investigar esta situação, visto que prescreveu.
Se
a inocência de PPC for real, seria legítimo ver a sua indignação perante tal
acusação. Eventualmente torpe.
Mas
apenas o ouvimos falar em esquecer passado tanto tempo.
Talvez
que, efectivamente, não seja fácil provar a sua inocência. Aliás, neste país
onde se supõe que o direito vigora, é à acusação que se requer que se prove o
que afirma.
Mas
como, e tal como a mulher de César que para além de ser séria haveria que
parecer ser séria, faria sentido que tal acusação, a ser infundada, fosse
desmentida com vigor.
E
não está a ser.
Recorda-me
este caso alguns outros: um exame feita ao fim-de-semana, uns créditos
universitários estranhos, um centro comercial polémico, uns gravadores subtraídos,
uma avioneta caída…
Casos
que redundam em comissões repetidas, inquéritos inconclusivos, afastamentos
discretos, arquivamentos judiciais, credibilidades postas em causa…
Estou
mesmo já cansado de ver tantas telhas partidas mas de o raio do prédio não ruir
de vez.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário