sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Em luta



Aquando das últimas eleições legislativas, de onde surgiu o actual governo, era previsível que este estivesse a prazo. Curto.
Alguns opinavam que estaria no poder até 2015, seguindo o calendário eleitoral normal, outros achavam que não se aguentaria tanto tempo da governação, sendo demitido a meio do mandato.
Isto porque o governo teria a tarefa de gerir a crise e lidar com as imposições da Troika, seguindo os preceitos do memorando e fazendo cortes e mais cortes nos rendimentos e direitos dos cidadãos. Como se tem vindo a constatar.
À oposição parlamentar restaria o papel de ser oposição, sem demasiado vigor. Pelo menos no partido da alternância, o PS. Este pouco vigor, com jogos de cintura suficientes para serem oposição mas não para fazerem, eventualmente, cair o governo, teria por objectivo deixar que o período mau de governação (crise e Troika) ficasse na memória dos cidadãos como da responsabilidade da maioria em funções. Em chegando novo acto eleitoral, a oposição elegível (PS) apresentar-se-ia com um discurso do género “eles fizeram a porcaria, aqui estamos nós para a limpar e vos salvar”.
Normal este jogo político, jogo baixo entenda-se, mas normal para mal dos nossos pecados.
Só que, e para que este plano funcionasse, haveria que ter à frente da oposição (PS) alguém que, sendo capaz de ir gerindo a oposição parlamentar, fosse alguém que não fizesse muitas ondas. Alguém que os eleitores não reconhecessem como figura capaz de fazer diferente.
O “renascer” vigoroso desta oposição junto do eleitorado seria para acontecer já perto de eleições, relançando o partido com carisma e ganhando de novo as simpatias dos eleitores.
É o que acontece com Seguro e Costa, os Antónios.
Seguro manteria a oposição em funcionamento, sem demasiado brilho ou perturbações e deixando que a coligação governamental gastasse a sua credibilidade junto do eleitorado. Costa viria, já perto das eleições, assumir o papel de líder carismático, puxando dos galões da sua experiência governativa nacional e autárquica, relançando o partido para as eleições em vista.

Isto é o que suponho ter sido o plano gizado no interior do PS aquando das últimas eleições.
Mas suponho também que ninguém terá avisado Seguro do seu papel temporário ou de fachada. Ou, sabendo ele disso, não quis seguir esse plano. E, tendo aguentado o papel de faz-de-conta, quer agora o lugar de destaque que entende merecer pelo trabalho que fez.
Já Costa, vendo o plano inicial contrariado, vê-se na contingência de uma luta interna mas pública para o cumprir, tentando empurrar o compére para os bastidores e assumir o papel principal de acordo com o guião da peça.

Infelizmente este jogo sem regras não é exclusivo desta equipa. Recordo, pese embora a memória colectiva ser curta, as declarações dos actuais governantes, em muito opostas às suas práticas, tão obscuras e baixas quanto o acima descrito.
PPC com as suas declarações pré-eleitorais sobre impostos e dificuldades dos cidadãos, PP com os seus discursos anti-partidários e as suas decisões irrevogáveis.
Os jogos de poder entre os elegíveis e os candidatos a elegíveis transformam qualquer escândalo financeiro em brincadeiras de jardim de infância.

E nós, o público deste palco sujo e degradado, vamos aplaudindo os actores, conforme ganham ou perdem as deixas, mas sempre pagando um preço demasiado alto.

Prefiro assistir aos animais em luta por um pedaço de comida. É igualmente trágico, mas muito mais honesto.

By me 

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