Aquando
das últimas eleições legislativas, de onde surgiu o actual governo, era previsível
que este estivesse a prazo. Curto.
Alguns
opinavam que estaria no poder até 2015, seguindo o calendário eleitoral normal,
outros achavam que não se aguentaria tanto tempo da governação, sendo demitido
a meio do mandato.
Isto
porque o governo teria a tarefa de gerir a crise e lidar com as imposições da
Troika, seguindo os preceitos do memorando e fazendo cortes e mais cortes nos
rendimentos e direitos dos cidadãos. Como se tem vindo a constatar.
À
oposição parlamentar restaria o papel de ser oposição, sem demasiado vigor.
Pelo menos no partido da alternância, o PS. Este pouco vigor, com jogos de
cintura suficientes para serem oposição mas não para fazerem, eventualmente,
cair o governo, teria por objectivo deixar que o período mau de governação
(crise e Troika) ficasse na memória dos cidadãos como da responsabilidade da
maioria em funções. Em chegando novo acto eleitoral, a oposição elegível (PS)
apresentar-se-ia com um discurso do género “eles fizeram a porcaria, aqui
estamos nós para a limpar e vos salvar”.
Normal
este jogo político, jogo baixo entenda-se, mas normal para mal dos nossos
pecados.
Só
que, e para que este plano funcionasse, haveria que ter à frente da oposição
(PS) alguém que, sendo capaz de ir gerindo a oposição parlamentar, fosse alguém
que não fizesse muitas ondas. Alguém que os eleitores não reconhecessem como
figura capaz de fazer diferente.
O
“renascer” vigoroso desta oposição junto do eleitorado seria para acontecer já
perto de eleições, relançando o partido com carisma e ganhando de novo as
simpatias dos eleitores.
É
o que acontece com Seguro e Costa, os Antónios.
Seguro
manteria a oposição em funcionamento, sem demasiado brilho ou perturbações e
deixando que a coligação governamental gastasse a sua credibilidade junto do
eleitorado. Costa viria, já perto das eleições, assumir o papel de líder carismático,
puxando dos galões da sua experiência governativa nacional e autárquica,
relançando o partido para as eleições em vista.
Isto
é o que suponho ter sido o plano gizado no interior do PS aquando das últimas
eleições.
Mas
suponho também que ninguém terá avisado Seguro do seu papel temporário ou de
fachada. Ou, sabendo ele disso, não quis seguir esse plano. E, tendo aguentado
o papel de faz-de-conta, quer agora o lugar de destaque que entende merecer
pelo trabalho que fez.
Já
Costa, vendo o plano inicial contrariado, vê-se na contingência de uma luta
interna mas pública para o cumprir, tentando empurrar o compére para os
bastidores e assumir o papel principal de acordo com o guião da peça.
Infelizmente
este jogo sem regras não é exclusivo desta equipa. Recordo, pese embora a memória
colectiva ser curta, as declarações dos actuais governantes, em muito opostas às
suas práticas, tão obscuras e baixas quanto o acima descrito.
PPC
com as suas declarações pré-eleitorais sobre impostos e dificuldades dos cidadãos,
PP com os seus discursos anti-partidários e as suas decisões irrevogáveis.
Os
jogos de poder entre os elegíveis e os candidatos a elegíveis transformam
qualquer escândalo financeiro em brincadeiras de jardim de infância.
E
nós, o público deste palco sujo e degradado, vamos aplaudindo os actores,
conforme ganham ou perdem as deixas, mas sempre pagando um preço demasiado
alto.
Prefiro
assistir aos animais em luta por um pedaço de comida. É igualmente trágico, mas
muito mais honesto.
By me
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