As
datas são o que são.
Sendo
que um ano tem apenas 365 dias, mas a história da humanidade e dos países muito
mais que 365 anos, é natural que em cada dia se comemorem vários
acontecimentos, cuja relevância dependa da geografia, da proximidade temporal e
das agendas politico-mediaticas.
Claro
que hoje, décimo primeiro dia do mês de Setembro, fala-se e recorda-se o 11 de Setembro.
E o que vem à mente da maioria, até porque recente, até porque noticiado, até
porque na origem (supostamente) de uma guerra, é o ataque às torres gémeas, em
Nova York.
Poucos
serão os que se recordam do que aconteceu há 41 anos, neste mesmo dia. Talvez não
convenha muito. Um golpe de estado no Chile, em que foi derrubada a democracia
ali existente e morreu Salvador Allende. Rezam as crónicas não oficiais que o
regime então assim implantado, uma ditadura encabeçada por Augusto Pinochet,
foi seriamente apoiado pelos EUA e os seus serviços secretos.
Menos
ainda saberão, pelo menos por cá, que este dia também é celebrado na Catalunha.
Ali é conhecido por “diada”, ou “Dia Nacional da Catalunha”.
Refere
a data a queda de Barcelona durante a guerra da sucessão espanhola, em 1714. As
instituições políticas catalãs só voltaram a ser legalmente aceites depois da
morte de Franco em 1975 e o regresso da democracia a Espanha.
E,
a propósito da Catalunha e dos países catalães, uma nota extra.
Está
previsto para o próximo dia 18 de Setembro um referendo na Escócia, na
sequência do qual poderá acontecer uma secessão no Reino Unido: a independência
da Escócia.
A
coisa está tão complicada que até mesmo os eternos inimigos politico-partidários
ingleses se uniram para tentar impedir que o resultado seja mesmo a independência.
Os media têm dado razoável cobertura noticiosa, aumentando o tempo de
reportagem e o espaço de jornal à medida que a data se aproxima.
Pouca
relevância tem sido dada, no entanto, a um outro acontecimento de cariz
equivalente e para breve: um referendo sobre a independência da Catalunha.
Convocado
para mês e meio depois, 9 de Novembro, foi proibido pelo governo de Madrid.
Alegando que feria a constituição de Espanha.
Mas,
sabendo que as relações entre a região autónoma da Catalunha e o governo
central não são as melhores, sabendo das reais aspirações de maior autonomia ou
mesmo de independência dos catalães, acredito que o referendo acontecerá, de um
modo ou de outro e que não será pacífico. Nem a sua realização nem o que se lhe
sucederá.
As
aspirações de independência da Catalunha são tão antigas quanto as do País
Basco. Apenas têm seguido rumos e estratégias diferentes. E o governo espanhol,
bem para além da questão política, ver-se-ia fechado geograficamente em relação
ao resto da Europa que ambas as regiões se separassem de Espanha: travessias
terrestres pelos Pirinéus, por um lado, os portos marítimos da Biscaia a norte
e do Mediterrâneo leste por outro.
Pouco
vamos ouvindo falar do que acontece na Catalunha ou no País Basco. É conveniente
que não se fale. Se outro motivo não houver, serão maus exemplos para as
aspirações de independência de outros povos, como é o caso do leste europeu ou
do médio oriente.
Como
poderão os altos poderes europeus ou norte americanos sancionar o que acontece
na Palestina se anuírem as independências europeias? Como poderão contestar o
que acontece na Ucrânia se a Catalunha ou o País Basco ou a Escócia se
autonomizarem ou separarem dos países a que agora pertencem?
Durante
anos esta foi a bandeira que esteve pendurada na minha janela.
O
tempo encarregou-se de a estragar.
Hoje
seria um dia bom para, na Ramblas ou por lá perto, encontrar e trazer uma nova.
Estou
demasiadamente longe para tal.
By me
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