quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Hoje



As datas são o que são.
Sendo que um ano tem apenas 365 dias, mas a história da humanidade e dos países muito mais que 365 anos, é natural que em cada dia se comemorem vários acontecimentos, cuja relevância dependa da geografia, da proximidade temporal e das agendas politico-mediaticas.
Claro que hoje, décimo primeiro dia do mês de Setembro, fala-se e recorda-se o 11 de Setembro. E o que vem à mente da maioria, até porque recente, até porque noticiado, até porque na origem (supostamente) de uma guerra, é o ataque às torres gémeas, em Nova York.
Poucos serão os que se recordam do que aconteceu há 41 anos, neste mesmo dia. Talvez não convenha muito. Um golpe de estado no Chile, em que foi derrubada a democracia ali existente e morreu Salvador Allende. Rezam as crónicas não oficiais que o regime então assim implantado, uma ditadura encabeçada por Augusto Pinochet, foi seriamente apoiado pelos EUA e os seus serviços secretos.
Menos ainda saberão, pelo menos por cá, que este dia também é celebrado na Catalunha. Ali é conhecido por “diada”, ou “Dia Nacional da Catalunha”.
Refere a data a queda de Barcelona durante a guerra da sucessão espanhola, em 1714. As instituições políticas catalãs só voltaram a ser legalmente aceites depois da morte de Franco em 1975 e o regresso da democracia a Espanha.

E, a propósito da Catalunha e dos países catalães, uma nota extra.
Está previsto para o próximo dia 18 de Setembro um referendo na Escócia, na sequência do qual poderá acontecer uma secessão no Reino Unido: a independência da Escócia.
A coisa está tão complicada que até mesmo os eternos inimigos politico-partidários ingleses se uniram para tentar impedir que o resultado seja mesmo a independência. Os media têm dado razoável cobertura noticiosa, aumentando o tempo de reportagem e o espaço de jornal à medida que a data se aproxima.
Pouca relevância tem sido dada, no entanto, a um outro acontecimento de cariz equivalente e para breve: um referendo sobre a independência da Catalunha.
Convocado para mês e meio depois, 9 de Novembro, foi proibido pelo governo de Madrid. Alegando que feria a constituição de Espanha.
Mas, sabendo que as relações entre a região autónoma da Catalunha e o governo central não são as melhores, sabendo das reais aspirações de maior autonomia ou mesmo de independência dos catalães, acredito que o referendo acontecerá, de um modo ou de outro e que não será pacífico. Nem a sua realização nem o que se lhe sucederá.
As aspirações de independência da Catalunha são tão antigas quanto as do País Basco. Apenas têm seguido rumos e estratégias diferentes. E o governo espanhol, bem para além da questão política, ver-se-ia fechado geograficamente em relação ao resto da Europa que ambas as regiões se separassem de Espanha: travessias terrestres pelos Pirinéus, por um lado, os portos marítimos da Biscaia a norte e do Mediterrâneo leste por outro.

Pouco vamos ouvindo falar do que acontece na Catalunha ou no País Basco. É conveniente que não se fale. Se outro motivo não houver, serão maus exemplos para as aspirações de independência de outros povos, como é o caso do leste europeu ou do médio oriente.
Como poderão os altos poderes europeus ou norte americanos sancionar o que acontece na Palestina se anuírem as independências europeias? Como poderão contestar o que acontece na Ucrânia se a Catalunha ou o País Basco ou a Escócia se autonomizarem ou separarem dos países a que agora pertencem?

Durante anos esta foi a bandeira que esteve pendurada na minha janela.
O tempo encarregou-se de a estragar.
Hoje seria um dia bom para, na Ramblas ou por lá perto, encontrar e trazer uma nova.
Estou demasiadamente longe para tal.



By me

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