A composição
chegou a este mesmo cais na hora prevista, como de costume que os horários
andam a ser cumpridos e, sendo sábado, ainda mais.
As portas
abriram-se e quem quis sair saiu. Eu quis e saí.
E quem quis entrar
e ali estava, entrou, como de costume.
Como de costume, o
revisor deu sinal ao maquinista, o comboio apitou e ouviu-se o silvo do fechar
de portas.
E eu, que não
tinha pressa, tinha acendido um cigarro e observava aquilo que sabia que era
normal acontecer.
O que já não foi
normal foi surgir uma senhora, de idade e com alguma dificuldade em se mexer,
mesmo ao cimo das escadas e perguntar em tom alto mas já desanimado:
“Este é o comboio
que vai para o Rossio?”
Foi quase que um
coro, os que de nós, que ainda ali estávamos, que respondemos que sim, mas com igual
desânimo, que viramos e ouviramos as portas a fecharem-se.
Mas nem todas!
Aquela de onde o revisor havia dado o sinal de partida ainda estava aberta, com
ele entre portas, que não havia tirado a chave de comando. E gritou ele,
daquela porta que distava ainda uns bons vinte metros porque na outra
carruagem:
“É este, sim!
Venha!”
E ficou ali,
mantendo a porta aberta, meio com a chave, meio com o pé a bloqueá-la.
Tentou a senhora
correr, ainda que não conseguisse, e acabou por embarcar nessa única porta
ainda aberta.
Fechou-se e o
comboio partiu.
Fiquei eu, com o
cigarro dependurado dos lábios, acompanhando com os olhos a porta onde ela
tinha entrado e onde ele tinha estado. Quando, no seu movimento ainda lento,
passou por mim, o meu olhar cruzou-se com o do revisor e, rapidamente,
descobri-me tirando-lhe o chapéu.
Do outro lado do
vidro da porta, ele sorriu-me e virou-se para dentro. Não sei que mais fez ele,
levado pelo comboio suburbano num sábado de manhã.
Por mim, e para
além de o ter saudado e agradecido, fiz o registo do lugar onde, num sábado
banal, algo de bom e nada banal, aconteceu.
Viva quem faz!
By me
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