Este
é um dos motivos pelo qual tenho uma admiração do tamanho do mundo por eles!
Esta
fotografia foi feita ontem, mesmo no finzinho do dia. Uns cinco minutos depois
já as nuvens estavam todas na sombra, tapadas do Sol pela própria Terra.
Nada
tem de extraordinário, se pensarmos que o fim do dia sucede todos os dias.
Acontece que ontem foi o Equinócio do Outono. Neste dia, o tempo de luz iguala
o tempo de noite, assinalando nós com este acontecimento o início do Outono. Ou
o fim do Verão.
São
quatro os dias assim especiais: equinócios (dois) e solstícios (dois). Advêm eles
da órbita elíptica da Terra em torno do Sol e da inclinação do eixo de rotação
do nosso planeta em relação ao plano da órbita. São calculáveis com relativa
facilidade, para quem conheça o movimento dos astros. Ou consultar qualquer
almanaque: do velhérrimo “Borda d’água” a qualquer site sobre o tema. Está na
ponta dos dedos.
Mas
nem sempre esteve.
As
civilizações antigas faziam do estudo dos astros e dos seus movimentos uma
actividade reservada aos sabedores e sacerdotes. Uma conjugação da observação e
da matemática, que se desenrolou em todos os continentes.
Acontece
que ainda antes de haver matemática, ainda antes de haver escrita, já estes fenómenos
eram constatados pelo Homem. Naquela época a que chamamos de “pré-história”. E
estes quatro momentos no ano – equinócios e solstícios – eram considerados
importantes o suficiente para serem considerados divinos e a eles serem
dedicados monumentos. Megalíticos naturalmente, com o arrastar e juntar pedras
de tamanho monumental, maiores que um homem, e conceber o seu arranjo por forma
a que nos momentos importantes destas datas a luz solar incidisse em locais privilegiados.
E apenas nestes dias.
Ora
sendo certo que não havia cálculo matemático nem sequer escrita, o conhecimento
era transmitido oralmente. E fruto da observação dos fenómenos. E é igualmente
certo que muitos seriam os dias em que o pôr-do-sol não estaria visível, tal
como ontem, impedindo o rigor das medições e posicionamentos. Tal como é certo
que cada um deles acontece apenas uma vez por ano. E temos também por certo que
a esperança média de vida de cada individuo era razoavelmente diminuta
(doenças, guerras, acidentes).
Imagine-se,
assim, a dificuldade em terem certezas ao construírem esses monumentos que
celebram dias únicos. Imagine-se o esforço na mobilização dos materiais,
imagine-se a quantidade de gerações necessárias para garantir os posicionamentos
exactos, imagine-se a importância que estes povos atribuíam a estas datas.
E,
no entanto e apesar das imensas dificuldades, faziam-no.
Hoje
damos de barato estes quatro dias. Celebrados desde sempre pela Humanidade.
Aprendemo-las na escola, brincamos em torno das mudanças de estação e servem de
assunto levezinho nos media.
Esquecemos,
porém, que estes fenómenos acontecem desde datas muito anteriores à própria existência
humana. E que mesmo depois de o Homem mais não ser que uma remota e eventual lembrança
continuarão a acontecer.
Negar
ou relegar para terceiro plano estes eventos é negar a nossa própria
efemeridade, enquanto indivíduos e enquanto espécie, atribuindo-nos uma importância
que não temos neste complexo a que chamamos de universo.
Sem
nenhum pendor teológico ou fatalismos inúteis, faço questão de assinalar estas
datas. Em conversas, com propostas ou apenas, e muito intimamente, apreciando
aquilo que não posso controlar. Sentindo-me do tamanho que tenho realmente e apreciando
o que importante e bonito vai acontecendo.
O
resto… O resto é a futilidade da taxidermia do tempo.
By me
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