Uma
ocasião, na escola onde dei aulas, surgiu um imprevisto.
Por
um erro das agendas ou desatenção algures, duas professoras vindas de um país nórdico,
e que vinham visitar a escola no âmbito de um programa de intercâmbio, apareceram
um dia mais cedo.
A
direcção não estava preparada com disponibilidade para lhes fazer as honras à
casa e, por sorte ou por azar, acabei por ficar eu com o encargo. Mas sem
interromper as aulas que tinha.
Fiquei
à toa. Que fazer? Não é fácil atrapalhar-me, mas a coisa era complicada. Até
por causa da língua.
Acabei
por as levar comigo para uma turma. Assistiriam a uma das aulas (duas horas) e
ficariam a saber como funcionávamos ali.
Mas
ficarem de parte, apenas a assistir não era coisa simpática. Nem para elas, nem
para os alunos, nem para mim.
Alterei
o programado, avancei com outros conteúdos e fi-las participar na aula, teórica
e prática, misturadas com os demais alunos, alternando entre as explicações
para a geral em português com algumas coisas em inglês. Indo um pouco mais
longe, coloquei alguns deles a explicarem-lhes este ou aquele assunto que
serviria de base para os trabalhos do dia.
Com
a tolerância recíproca entre todos, até que nem correu muito mal. Mas suspeito
que todos suspirámos de alívio quando acabou. Pelo menos assim aconteceu
comigo, que foi um petisco e peras.
Quando,
uns dois ou três dias depois, a sua visita terminou, procuram-me.
Tinham
elas para me entregar um objecto do seu país, que costuma ser colocado no cimo
das casas aquando da sua construção e em atingindo o telhado ou viga mestra.
Traziam
o encargo de o entregar à escola mas tinham decidido fazê-lo a mim, pela forma
como as tinha recebido, esquecendo protocolos e integrando-as nas actividades
lectivas daquele jeito.
Fiquei
de cara à banda e tentei passar a distinção para a escola, que afinal é o
resultado de todos os que lá trabalhamos – alunos, professores e não professores.
Talvez que se alguém o merecesse mesmo tivessem tido os alunos, que as souberam
receber tão bem no seu seio.
Insistiram
e insistiram e acabei por aceitar, meio acanhado, que não sou destas coisas.
Mas
está aqui em casa, na parede e em lugar de destaque.
Um
daqueles troféus que ganhamos apenas por sermos o que somos e sem entrarmos em
competições.
By me
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