Foi
há já bastante tempo, aquando do meu primeiro ano a trabalhar com estudantes.
Havia
que lhes falar de objectivas (normal, tele e grande angular) e, em tom de brincadeira,
disse-lhes que a “normal” era assim chamada porque era a que normalmente vinha
com as câmaras. Claro que, de seguida, desmontei a piada e lhes expliquei os
diversos conceitos de distância focal, ângulo de visão e visão humana.
Uns
dias depois, e para tomar balanço para a matéria seguinte, perguntei-lhes se
sabiam o que era uma objectiva normal. Uma das alunas, muito compenetrada,
consultou os seus apontamentos e disse, citando-me e muito séria, que era a que
vinha normalmente com as câmaras.
Apanhei
um susto e fiquei em pânico. Ela estava certa porque citava o professor. Apenas
não tinha entendido o que viera de seguida. E o erro fora meu, que não
organizei o meu discurso ou explicações para com eles de forma correcta.
Foi
uma das grandes lições sobre pedagogia e relações humanas que tive na vida.
Mas
ainda hoje, por vezes, me esqueço do que então aprendi. E enceto discursos ou
conversas com gente que não sabe ou conhece os pressupostos de que parto para
eles.
O
resultado é, com frequência, desastroso.
Que
a ironia, mais fina ou mais grosseira, nem sempre é entendida como tal e é tomada
ao pé da letra.
Anteontem
passei por uma dessas, com uma mocinha que, tendo já formação superior, se lhe
escapou o real sentido das minhas palavras.
Hoje
foi rigorosamente o mesmo, pese embora já não ser mocinha e ter já múltiplas
formações académicas superiores.
Uma
de duas coisas tenho que passar a fazer:
Ou
bem que afino o meu discurso, fora do contexto lectivo, ponderando muito bem a
quem se dirige e com uma análise prévia dos limites de até onde e como o posso
fazer, o que redunda numa “seca” para as partes e uma muito séria perca de
eficácia no meu próprio raciocínio;
Ou
bem que me mantenho como sou, correndo o risco de, a cada tirada irónica ou de
múltiplo sentido, perder audiência e, consequentemente, ficar reduzido a uma
“elite”. O que evito como o diabo a cruz.
Nos
entretantos, saiba-se que contesto a definição de a 50mm ser a “objectiva
normal” em película ou Full Frame.
A
visão de cada indivíduo é tão individual quanto ele e aquilo de que apercebe
visualmente do exterior depende das características específica de cada um.
Físicas e subjectivas.
Exactamente
por isso, cada fotógrafo tem uma objectiva que prefere, e que não depende em
exclusivo da sua luminosidade, “handling” ou tamanho.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário