O
dia estava a acabar bonito. Não esplendoroso, mas bonito, ameno, cálido mesmo,
sem que uma aragem perturbasse o subir do fumo do cigarro.
Mandam
as rotinas aqui de casa que, mesmo que seja só para tomar um café, se saia de
casa com a câmara. As mais das vezes regressa sem uso, mas nem sempre, que há
esta ou aquela suspeita que nos conduz a caminhos não rotineiros. Foi o caso.
E
por entre as nesgas dos prédios de um dormitório suburbano lá consegui fazer um
clássico. Fosse eu a decidir, e as nuvens e o sol assumiriam outras posições em
relação às folhas, mas não sendo eu o decisor, tive que me contentar com o que
dispunha.
Um
clássico, nem bom nem mau, apenas um clássico.
De
regresso a casa, o cigarro continuava a fumegar a direito e quedei-me a terminá-lo
à porta. Que diabo, mesmo não vendo o sol mas tão só o que ele conseguia
mostrar por entre as nuvens, há sempre cores e nesgas que nos atraem.
Estava
eu nesta atitude clássica de esperar algo de mais fotografavel, e entram no prédio
três casais meus vizinhos. “Boas tardes”, como se impõe, “Está a ficar um fim de
dia bonito” de complemento.
Cumprimentos
igualmente clássicos entre gente urbana e discreta.
Quando,
fumado o cigarro e acabado o sol, entro no prédio para subir até casa, outro clássico:
os três elevadores pacatamente parados nos últimos e penúltimos andares, pisos
de residência daqueles vizinhos.
É
já um clássico, o usar o elevador sem pensar em quem venha atrás. Aliás, o
grande clássico é usar a porta e não esperar por quem caminha atrás, mas o dos
elevadores é clássico.
Tal
como é clássico o que fiz de seguida: chamei um, onde subi, e garanti que todos
eles três regressavam ao piso zero, por onde entram todos os residentes. No fim
de contas, todos gostam, como eu gosto, de ter um elevador à nossa espera em
chegando a casa.
Foi
um fim de tarde domingueira clássica: uma fotografia clássica, uns cumprimentos
de circunstância igualmente clássicos e o ignorar por completo quem mais existe
neste mundo ou mesmo no mesmo prédio.
E
foi um clássico o eu largar três palavrões bem portugueses e desfazer o egoísmo
convencional e clássico da vizinhança.
By me
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