terça-feira, 2 de setembro de 2014

Sobre diafragmas



Vejamos as coisas como elas são na verdade:
A profundidade de campo depende da escala de reprodução e do diafragma.
Por escala de reprodução entenda-se a relação existente entre o tamanho do assunto e o tamanho da imagem produzida no alvo (sensor).
Daqui se obtêm duas coisas:
- Uma tele-objectiva, ao reproduzir em grande algo a meia distância ou uma objectiva macro, ao reproduzir em grande o mesmo objecto mas bem mais de perto, têm a mesma profundidade de campo;
- Um sensor mais pequeno que um outro, digamos um APS-C e um Full Frame, numa situação em que o enquadramento é idêntico, o APS-C tem maior profundidade de campo já que a imagem do assunto, ao preencher o sensor, é menor que a imagem necessária para preencher o sensor Full Frame.
Donde, quanto menor o sensor, menor a possibilidade de usar o foco selectivo como elemento estético. Não é questão que preocupe os menos aficionados ou profissionais, já que querem tudo nítido e focadinho. Mas quem leva a coisa mais a sério tem que considerar este aspecto.

Saiba-se também porque as objectivas zoom, que não de alta gama, têm valores distintos de abertura máxima de diafragma consoante estão na sua mínima distância focal e na máxima (zoom aberta e zoom fechada).
O diafragma é um buraco através do qual passa luz. A sua área é-nos dita pelos números que conhecemos e que definem a quantidade de luz que passa.
(Em boa verdade, o valor f/ fala-nos da área do buraco. Se quisermos saber com exactidão a quantidade de luz que por ele passa, devemos usar o valor “T”, que mede a transmissividade de todo o conjunto, lentes e diafragma.)
Mas a sua área depende da distância focal. Considerando duas distâncias focais (50mm e 400mm) e um mesmo valor de diafragma, digamos f/8, a área da primeira é menor que da segunda. Ou, se preferirem, o buraco da 400mm é muito maior que o da 50mm.
Isto deve-se a dois factores. Por um lado, a definição de distância focal é a distância que vai do centro óptico ao alvo (sensor ou película). Uma 400mm tem o seu centro óptico a 400mm e uma 50mm tem o seu centro óptico a 50mm. E se considerarmos a lei do inverso do quadrado da distância, que nos permite calcular quanto a luz varia com a distância, entendemos que numa 400mm chegaria menos luz ao alvo através de um mesmo buraco que numa 50mm. Para que a luz seja a mesma, há que ter um buraco maior na 400mm que na 50mm.
Ora numa zoom, quando variamos o ângulo de visão (abrimos ou fechamos a zoom) estamos a aproximar ou afastar o centro óptico. E, para que o rendimento luminoso no alvo seja constante, para além de reposicionarmos algumas lentes no interior da objectiva, estamos também a alterar a área do diafragma.
Acontece que a abertura máxima de uma objectiva depende também da área do elemento frontal. Uma objectiva com uma “boca” pequena não pode ter uma abertura máxima muito grande. Por isso, nas objectivas zoom de média e baixa gama, com bocas não pavorosamente grandes, a abertura física do diafragma aumenta quando aumentamos a distância focal, até atingir o seu limite, mesmo que a zoom continue a fechar. E, a partir deste ponto, a quantidade de luz que chega ao sensor é menor, já que a relação distância focal/área do diafragma se altera.

Saiba-se também, e a título de curiosidade complementar, que a relação matemática aproximada entre dois valores f/consecutivos é de √2. É o valor pelo qual se deve multiplicar ou dividir o raio de um círculo para se obter o dobro ou metade da área.

Estas questões, pouco aprofundadas, demasiado técnicas e estranhas para uns, desde há muito sabidas para outros, são importantes porquê?
Porque, ao querer-se usar a exposição em manual, quer seja usando o medidor da câmara, quer seja um externo, quer seja com luz contínua, quer seja com luz de flash, podem obter-se resultados sub ou sobre-expostos se não se considerar as características específicas da objectiva que estamos a usar.
Dizia um velho compincha e mestre: “O material tem sempre razão. Nós é que não o entendemos.”


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