segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Luvas



Aquela peça de vestuário que, se não tiver dedos, se chama mitene.
Luvas para o frio, luvas de boxe, luvas de cerimónia, trabalho ou desporto.
Dar luvas.
Todo o mundo conhece o termo “Dar luvas”. O que já não é tão conhecido é o motivo pelo qual se associa este termo a corrupção ou qual a origem da expressão.
Em tempos de antanho, as luvas eram uma peça reservada às mais altas classes sociais. Os comuns, vilãos ou servos tinham que conviver com o frio ou com a aspereza das tarefas que realizavam.
Mas a nobreza usava-as que não apenas para o frio. Para combate. Faziam parte das armaduras ou cotas de malha metálica com que enfrentavam os adversários, em campos de batalha ou liças de torneios.
Estas couraças metálicas eram fabricadas pelos ferreiros ou armeiros, a quem os nobres combatentes agradeciam a robustez dos seus artefactos, após os combates a que sobreviviam, com uma das luvas que tivessem usado. Eram troféus exibidos pelos artesãos para demonstrar as qualidades dos seus trabalhos.
Com o passar dos tempos, começaram a perder importância como tal, mas o agradecimento manteve-se, agora com umas moedas incluídas no seu interior.
Por muito bom que seja o ferro ou o aço, o ouro vale sempre mais.
Quando os tentáculos metálicos perderam a sua função bélica, com eles desapareceram os troféus. Mas manteve-se a tradição de pagar ou agradecer de uma forma dissimulada, os favores ou dívidas assumidas. De metal passaram a couro ou tecido, sempre com as moedas no seu interior.
Hoje esses pagamentos dissimulados não circulam dentro de luvas. Mas continuam a ser presentes valiosos, as mais das vezes não confessos nem públicos. Mas mantêm-se no campo dos contratos, bélicos, industriais, políticos ou outros, para garantir favores prestados, atenções dadas, opções tomadas, que, tal como os presentes, não são nem confessos nem públicos.

Confesso que cada vez mais tenho vontade de recuar no tempo e procurar as velhas luvas metálicas e bem sólidas. E delas fazer prenda, pela cara dentro, de muitos gabirus que por aí andam usufruindo do nosso esforço para encherem a sua própria barriga.


Imagem: by me

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