terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Três em um



Estava eu de passeio em Sintra, bem ali ao fundo à esquerda, em busca de florzinhas e folhinhas, que sei ali existirem, para as fotografar em contra-luz.
Eis senão quando olho para aqui e vejo o que aqui se vê. Melhor, vejo o carro do meio em elaboradas e difíceis manobras para assim ficar estacionado. Que a rua até que é estreita e, em ficando na faixa de rodagem, outros carros não passariam.
E fiquei a ver a mocinha que em tais assados se encontrava, na vã expectativa de que desistisse e partisse para outras paragens. Mas qual quê!
E subiu, e desceu, e subiu e desceu, a tal ponto que foi obrigada a sair do carro pela porta da direita, que a sua já nem abria.
Com alguma paciência, esperei que se fosse embora à sua vida para fazer o registo do costume. Até porque, e para além de estar em cima do passeio, ignorou por completo o traço amarelo no chão e o sinal de estacionamento e paragem proibidas na curva. O chamado “três em um”.
Pois a mocinha apercebeu-se do que eu fazia e veio em protesto. Primeiro que eu não o podia fazer, depois qual a minha autoridade para o fazer e terminou com o apelo clássico de que seriam apenas cinco minutos, que teria que devolver um livro (isto passou-se junto à biblioteca de Sintra) e que a um euro o parquímetro, era muito caro.
Tentei usar da minha paciência, do fazer-lhe ver das infracções cometidas, do incómodo que causava aos peões, e nada. Nem ela nem o amigo que veio em seu socorro se demoveram e o carro ficou como se vê.
Foram eles à sua vida e eu à minha que, neste caso, passa por isto.
Talvez um dia passe um camião e a chapa amolgada seja bem mais cara que a multa pelo atraso do livro. Ou que descubra que um chassis em cima do corpo de um peão seja bem mais pesado que a moeda de euro que não quis pagar. Ou que passe a patrulha e que as três infracções de uma só vez sejam bem piores que o seu egoísmo e pessoal necessidade.

Texto e imagem: by me

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