domingo, 16 de janeiro de 2011
O Borda D'Água
Este ano atrasei-me. Costumo comprar o “Borda D’Água” em finais de Novembro, princípios de Dezembro, quando aparece à venda, mas desta vez foi só hoje.
Há anos que o compro. Uma nostalgia, talvez, dos tempos em que ia de férias grandes para casa dos avós distantes e em que a única leitura que por lá havia, que não a que de Lisboa levava, era o “Borda D’Água” e os “Almanaques das Missões”, que todos os anos minha avó comprava e que todos os anos eu relia, sempre em busca de anedotas novas, que nunca encontrava.
Delicio-me, hoje, com o abri-lo com o canivete, que as folhas não vêem cortadas, prova de que não foi ainda lido e sistema que embaratece a produção. Tal como sucedia, então, com livros novos, prazer que, nos tempos que correm, já não se tem.
Claro está que o “Borda D’Água” me é particularmente útil. Fico a saber quando plantar alfaces, regar alcachofras, colher alecrim e outros saberes imprescindíveis a um citadino suburbano como eu. Assim como fico a saber que santinho é celebrado em cada dia do mês, não vá eu enganar-me ao fazer uma citação ou acender uma velinha.
O que realmente é útil (ainda que hoje se encontre com dois clicks na net) é saber as fases da Lua no geral e os dias de Lua cheia em particular. Gosto de a observar e fotografar, ainda que nem sempre o possa fazer.
E quando hoje, no quiosque da estação onde o comprei junto com os cigarros, expliquei-o à senhora que ali trabalha.
“Ai sim?”, disse-me ela “É que, sabe, eu só corto o cabelo em estando a lua em quarto crescente.”
Não lhe perguntei o porquê de tal ritual, mas sempre a esclareci, sendo ela brasileira, que Lua em terras Lusas é mentirosa e em terras de Vera Cruz é verdadeira. Ficou a olhar-me com cara de espanto e lá lhe contei sobre o “D” da Lua ser o “C”rescente e o “C” da Lua ser o “D”ecrescente por cá, ao contrário do que sucede na terra dela.
“Tenho que ver isso!”, respondeu-me. “Se calhar tenho andado enganada.”
Só não lhe expliquei que isso se deve ao facto de cá estarmos de pernas para o ar em relação ao seu hemisfério de origem, o Sul.
Quando saí do quiosque deixei lá três exemplares. Amanhã, quando comprar cigarros e como quem não quer a coisa, contá-los-ei. Aposto em como estarão apenas dois “Borda D’Água” para venda.
Texto e imagem: by me
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