Ao preparar o café,
em casa de manhãzinha, cai uma bátega. E se o dia já estava farrusco, ficou
escuro. Mesmo.
Por brincadeira e
curiosidade científica, fui buscar o fotómetro: queria eu saber, com rigor,
quanto menos luz estava naquele momento do que estaria se o sol estivesse a
descoberto. Que “escuro” ou “muito escuro” pouco indicam.
Para quem souber
destas coisas, digo que estavam seis diafragmas a menos que o habitual.
Para quem não sabe
destas coisas, informo que estava cerca de 1/64 da luz do costume.
Para quem quiser
ter uma indicação mais comum, acrescento que tive que acender a luz da cozinha
para ver o que fazia, que o que entrava pela janela não era suficiente para
perceber se o café moído na lata chegaria ou teria que abrir um pacote.
Postas coisas neste
pé, e satisfeita a minha curiosidade, recordei-me tristemente daquilo que
preferia nem saber.
Há uns anos, não
muitos, andei a explicar a uns quantos o como usar uns aparelhos de medida de
luz qualitativa. Calibrações, menus, significado das indicações e tabelas, usos,
vantagens e desvantagens.
Não tinha que o
fazer, que não era minha função nem me tinham encomendado o sermão. Mas ia
surgindo em conversa e eu, que ando de mangas arregaçadas e sem nada nelas
escondido, fui esclarecendo as dúvidas para justificar afirmações e práticas.
Andam hoje alguns
desses ufanos do saber, exibindo-o perante mim como se ignorassem de onde veio,
usando-o para me apoucarem e atropelarem.
Confrontado com
isto, nem sei se hei-de rir se gritar de raiva.
Rir do caricato da
situação. Afinal, estão a querer explicar o quê a quem?
Gritar porque, no
fim de contas, não aprenderam que a frieza dos números e dos aparelhos de
medida não faz ninguém melhor. Nem como pessoa nem nos desempenhos. Apenas
serve de alicerce de barro mal cozido a egos descomunais.
Em qualquer dos
casos, saiba-se que passados minutos a bátega terminou, as nuvens rarearam e o
sol já me entra pela janela. 7500 Lux e, devido às nuvens, 4200 Kelvin.
By me
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