Naquele dia os
meus horários de trabalho foram bem diferentes do habitual. Tanto na entrada
como na saída.
Vai daí, pensei
eu, se é para quebrar rotinas que seja por completo. E quando saí mudei de
trajecto para casa.
Outro autocarro,
que me deixaria noutro ponto da cidade e que, apesar disso, me permitiria
embarcar num comboio, mas noutra estação. Quebras nas rotinas.
O sol já se tinha
posto e o autocarro tinha poucos passageiros. Apesar disso, o motorista não
mostrava pressa na condução, talvez que, devido ao pouco transito, não se
verificavam atrasos.
Numa das paragens,
e como de costume, as portas abriram-se, saíram passageiros, entraram
passageiros e as portas fecharam-se. Rotinas.
Mas ainda antes de
retomar a marcha, surge junto à porta de entrada um jovem, talvez de quinze
anos, a correr e esbaforido. O motorista apercebeu-se e abriu a porta.
O rapaz não subiu
logo. Fez ali um compasso de espera, olhando para trás, naquilo que muitos de
nós entendemos mesmo sem explicações: Tinha ele vindo à frente de outras
pessoas, que não correriam como ele, e estava ali a garantir que conseguiriam
embarcar. Também normalíssimo.
Chegaram,
finalmente. Uma família, de seis elementos, o mais novo com uns seis anos, ou dois com uns dez a doze, mais o que pareciam ser pai e mãe.
Embarcaram, os
pequenotes sentados à frente, o resto da família nos últimos bancos do
autocarro. Também isto tudo normal.
Tal como normal o
facto de serem de origem indiana. Constatável nas feições, nos trajes e na
língua que entre si usavam. Uma das zonas atravessada por aquela carreira de
autocarros é habitada por muitos migrantes com essa origem, pelo que nada
incomodava ou estranhava.
O que me
incomodou, mesmo, foi o facto de nenhum deles, nenhum mesmo, ter emitido um
agradecimento ao motorista. Nadica de nada. Entraram, sentaram-se e nada
disseram a quem por eles esperou, pese embora já tivesse fechado as portas e se
preparasse para iniciar a marcha.
Tal como me
incomodou que nenhum deles, nem um só que fosse, tivesse pago a tarifa de bordo
ou apresentasse passe ou bilhete pré-comprado.
Pareceu um acto
perfeitamente normal o embarcar sem pagar ou demonstrar que já haviam pago.
Confesso que não
gostei. Nada!
É que poderiam não
ter agradecido, mas ter pago o serviço recebido. Poderiam ter usufruído de uma
borla, legal ou não, mas ter retribuído a gentileza com uma palavra simpática.
Infelizmente, pese
embora o querer quebrar rotinas, há coisas que são imutáveis.
By me
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