sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Não 'tava previsto



Não ‘tava previsto. Nada!
Mas isto de não ter pressa, de saber que não há que deitar cedo porque não há que levantar cedo e de me ver na rua com o sol lá bem no alto no meio de um céu azul… nada como aproveitar e deixar que os pés me levem para onde o nariz aponta, fazendo que conta que sou turista na minha própria cidade.
Costuma resultar, mas não hoje.
Depois de um percurso nunca feito, dou comigo onde não sou nem turista nem forasteiro, mas também nem vizinho nem da casa: no jardim da estrela.
Faz tempo, bastante, que aqui não exerço o mister de photógrapho à-là-minuta. Apesar disso, sou saudado por três pessoas diferentes, desses tempos, um dos quais me chamou de “o fotógrafo do jardim”, atravessando relva e caminhos para me cumprimentar.
Outra, já idosa, não teve coragem de se levantar do banco, que as pernas já não ajudam, mas não deixou de me acenar lá do meio das suas duas amigas.
A terceira… bem, a terceira reconheceu-me mesmo no meio dos vapores etílicos que lhe toldam permanentemente a vista e acabou por me confidenciar que hoje não estava lá muito bem. No meio da sua imaginação, tinha passado a noite com um espanhol e tinham abusado na cerveja.
Fui ainda abordado por uma romena, vendedora de calendários, “Borda d’água”, pensos rápidos e o que mais houver, que cada vez que me vê me pergunta por fotografias feitas nessa época. Vou-a encontrando em zona várias da cidade e de todas as vezes me pede o mesmo, como se eu andasse com elas na carteira.
De longe, ainda me saúda um agente da PSP, que conheci aqui mesmo, na sua patrulha p’las zonas frequentadas p’los jovens estudantes das imediações.
A coisa termina, suponho, com uma jovem estudante de teatro que me entrega uma tosta pedida e que me diz ter conhecido um velho compincha d’ofício, falecido bem longe.

Acredito que se tivesse trazido a minha câmara à-là-minuta e a tivesse instalado no lugar onde era costume, teria feito bom “negócio”.
Assim, restou-me usar a câmara de bolso e fazer o enquadramento que era rotina.
Cabe-vos o imaginar uma, duas ou mais pessoas neste espaço, mais sérias, enamoradas ou em paródia.

Que numa fotografia é tão importante o que viu e sentiu quem fotografou como o que vê, sente e imagina quem observa o trabalho final.

By me 

Sem comentários: