Não ‘tava
previsto. Nada!
Mas isto de não
ter pressa, de saber que não há que deitar cedo porque não há que levantar cedo
e de me ver na rua com o sol lá bem no alto no meio de um céu azul… nada como
aproveitar e deixar que os pés me levem para onde o nariz aponta, fazendo que
conta que sou turista na minha própria cidade.
Costuma resultar,
mas não hoje.
Depois de um
percurso nunca feito, dou comigo onde não sou nem turista nem forasteiro, mas
também nem vizinho nem da casa: no jardim da estrela.
Faz tempo,
bastante, que aqui não exerço o mister de photógrapho à-là-minuta. Apesar
disso, sou saudado por três pessoas diferentes, desses tempos, um dos quais me
chamou de “o fotógrafo do jardim”, atravessando relva e caminhos para me
cumprimentar.
Outra, já idosa,
não teve coragem de se levantar do banco, que as pernas já não ajudam, mas não
deixou de me acenar lá do meio das suas duas amigas.
A terceira… bem, a
terceira reconheceu-me mesmo no meio dos vapores etílicos que lhe toldam
permanentemente a vista e acabou por me confidenciar que hoje não estava lá
muito bem. No meio da sua imaginação, tinha passado a noite com um espanhol e
tinham abusado na cerveja.
Fui ainda abordado
por uma romena, vendedora de calendários, “Borda d’água”, pensos rápidos e o
que mais houver, que cada vez que me vê me pergunta por fotografias feitas
nessa época. Vou-a encontrando em zona várias da cidade e de todas as vezes me
pede o mesmo, como se eu andasse com elas na carteira.
De longe, ainda me
saúda um agente da PSP, que conheci aqui mesmo, na sua patrulha p’las zonas
frequentadas p’los jovens estudantes das imediações.
A coisa termina,
suponho, com uma jovem estudante de teatro que me entrega uma tosta pedida e
que me diz ter conhecido um velho compincha d’ofício, falecido bem longe.
Acredito que se
tivesse trazido a minha câmara à-là-minuta e a tivesse instalado no lugar onde
era costume, teria feito bom “negócio”.
Assim, restou-me
usar a câmara de bolso e fazer o enquadramento que era rotina.
Cabe-vos o
imaginar uma, duas ou mais pessoas neste espaço, mais sérias, enamoradas ou em
paródia.
Que numa
fotografia é tão importante o que viu e sentiu quem fotografou como o que vê,
sente e imagina quem observa o trabalho final.
By me
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